Tese

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A deterioração do poderio relativo dos Estados Unidos se manifesta, entre outras coisas, no colossal endividamento público e privado, com as decorrentes implicações para o padrão dólar, na desindustrialização, no recuo de sua participação relativa no comércio exterior, bem como no ranking das aquisições e exportação de capitais. O dólar mantém-se como moeda de reserva e trocas internacionais, mas seu papel tem se reduzido com a crescente tendência à realização de acordos comerciais e cambiais que não tomam a moeda estadunidense como referência. É intensa também a demanda, principalmente por parte da China e demais países do Brics, por uma nova arquitetura financeira e pela reforma do sistema monetário internacional. Observa-se no interior do Brics o mais pujante crescimento econômico – casos de China e Índia – e o reforço do poderio econômico e militar da Rússia. O declínio relativo dos Estados Unidos manifesta-se também nas profundas contradições no seio de sua sociedade. Não se deve, contudo, subestimar o poder desta superpotência e de seus aliados. Os Estados Unidos têm mais de 20% do PIB mundial medido em dólar, força ponderável no sistema financeiro, gigantesco poder agropecuário e a maior capacidade em Pesquisa e Desenvolvimento. O poder militar está assentado no maior gasto mundial em defesa, bem como numa ampla rede de bases militares espalhadas por todo o mundo (sobretudo em regiões estratégicas, como estreitos e zonas de produção e escoamento de hidrocarbonetos).
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Outro aspecto essencial para compreender a conjuntura internacional é a militarização. Em primeiro lugar, a expansão da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) em direção aos países que faziam parte do antigo campo socialista. Após a desintegração da URSS, ao contrário de desaparecer, a Otan se fortaleceu, ampliando sua agenda política, com um discurso de segurança que abarca questões não só militares, mas também políticas, econômico-sociais e ditas “humanitárias”, e seu escopo geográfico, com a expansão para os Países da Europa Central e do Leste (PECL). A Organização mais que dobrou o número de integrantes: em 1999, ingressaram Hungria, Polônia e República Tcheca; em 2004, foram incluídas Bulgária, Estônia, Letônia, Lituânia, Romênia, Eslováquia e Eslovênia; e em 2009, aderiram Albânia e Croácia. Segundo, a expansão de bases militares no esteio da denominada “Guerra Global ao Terror” desencadeada a partir de 2001. Por fim, a ameaça nuclear e a tentativa de construir escudos antimísseis na Europa. Foi anunciado em 2016, na cúpula da Otan em Varsóvia, o início operacional do sistema defensivo de mísseis balísticos, integrando as funções dos radares instalados na Turquia, dos navios estadunidenses baseados na Espanha e a instalação interceptadora na Romênia contra a Rússia. Na Ásia está em processo de instalação o Terminal de Defesa Aérea para Grandes Altitudes (Thaad, na sigla em inglês) na Coreia do Sul contra China e Coreia Popular. Por fim, a Otan ensaia incluir em sua área de influência o Atlântico Sul, ameaçando o entorno estratégico do Brasil, Uruguai e Argentina.
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A crise econômica e os conflitos geopolíticos têm resultado em impasses políticos e descrédito das corrompidas instituições que conformam a democracia sob a hegemonia do capital. Décadas de aplicação do neoliberalismo, com suas consequências devastadoras, foram sustentadas na esfera da comunicação e da propaganda por um sistema midiático que apostou intensamente na despolitização e na incultura, como forma de alienar as grandes massas das verdadeiras causas das contradições sociais. Isso ajudou decisivamente a canalizar o desencanto com o neoliberalismo, não para saídas mais avançadas, mas para o ataque às próprias liberdades democráticas. Na verdade, assiste-se no plano político, em escala global, ao desenvolvimento de uma onda conservadora, de direita e de cunho fascista. Os resultados das últimas eleições presidenciais nos Estados Unidos e a disputa no segundo turno das eleições presidenciais na França, polarizadas entre a direita e a extrema-direita, são indicadores dessa tendência. A xenofobia se torna lugar comum, enquanto as políticas imperialistas ganham contornos racistas e colonialistas. Dissemina-se o individualismo exacerbado. Empreende-se sistemática campanha para desinformar e despolitizar a sociedade. Ataca-se a democracia. Procura-se excluir as forças progressistas dos parlamentos. Impõe-se legislações e novas constituições para atender aos interesses do capital financeiro. Realiza-se antirreformas para esvaziar o papel do Estado como fator de proteção dos direitos sociais e indutor do desenvolvimento.
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É nesse quadro que atuam e se desenvolvem – em meio a grandes dificuldades políticas, ideológicas e organizativas – as forças progressistas, anti-imperialistas, revolucionárias e comunistas. A correlação de forças no plano mundial mantém-se desfavorável às correntes revolucionárias, nacional-libertadoras, anti-imperialistas, entre elas os partidos comunistas, o que implica objetivamente um prolongado processo de acumulação revolucionária de forças. O novo quadro geopolítico em curso no mundo exerce forte impacto sobre as lutas dos povos. As contradições entre as potências imperialistas, ao tempo em que aumentam os perigos de guerras e intervenções, causam fissuras que dão maior margem de manobra à resistência nacional e popular e precisam ser tomadas em consideração na luta pela paz e por uma nova ordem em que prevaleçam a democracia, o direito internacional, a soberania e a autodeterminação dos povos. Não obstante as dificuldades, intensifica-se objetivamente a luta de classes, que é – em sentido amplo, incluindo neste conceito a luta anti-imperialista – um dos traços que caracterizam o momento histórico. Diante do sistema capitalista-imperialista, de sua profunda crise estrutural e sistêmica, da execução de políticas neoliberais, das políticas de guerra, da natureza reacionária do sistema político e econômico burguês, ganha relevo a tarefa de firmar em cada país e em interação uns com os outros as forças revolucionárias capazes de abrir caminho para superar os graves impasses em que a humanidade se encontra. O PCdoB, ao mesmo tempo em que reafirma que são artificiais as tentativas de impor estratégias e táticas rígidas ao conjunto do movimento comunista, defende a intensificação dos intercâmbios de opiniões e experiências.
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3) Crescimento e distribuição de renda
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Os governos Lula e Dilma associaram crescimento econômico e distribuição de renda. Mais de 36 milhões de pessoas foram retiradas da condição de pobreza extrema. Entre 2003 e 2012 houve a geração de quase 20 milhões de empregos formais, o salário-mínimo, regido por uma política inédita de reajuste entre 2002 e 2014, obteve um aumento real de 71,5%, constituindo-se num dos principais fatores que promoveram uma mobilidade para cima na pirâmide social em escala de milhões. Para além da redução progressiva da desigualdade no Brasil pelo índice Gini, houve aumento do valor real médio dos salários no país por doze anos consecutivos – o que configura uma importante vitória da economia política do trabalho sobre a economia política do capital no início da estruturação de um novo projeto de desenvolvimento nacional. A renda dos pequenos agricultores elevou-se, bem como o crédito subsidiado à agricultura familiar. O programa Minha Casa, Minha Vida proporcionou moradia digna para 6,8 milhões de brasileiros, e o Luz para Todos beneficiou 15,6 milhões de pessoas. Na saúde, embora tenham persistido deficiências graves devido principalmente ao subfinanciamento, houve esforços para se fortalecer o Sistema Único de Saúde (SUS). Programas como Mais Médicos, Farmácia Popular, Brasil Sorridente e os que concorreram para a significativa redução da mortalidade infantil proporcionaram importantes conquistas ao povo. A educação teve expansão significativa. A partir de 2003 foram criadas 18 universidades federais, quase dobrando o número de matrículas. O Programa Universidade para Todos (ProUni) beneficiou 1,2 milhão de estudantes e o Fundo de Financiamento Estudantil (Fies) firmou 2,5 milhões de contratos. Até 2002, o Brasil possuía apenas 140 escolas técnicas. De 2003 a 2016, 500 novas unidades foram criadas.
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A perda de hegemonia política da esquerda, cujo marco inicial foram as manifestações de junho de 2013, deu-se após prolongada ofensiva do consórcio golpista. Consumou-se a reviravolta pró forças neoliberais no decorrer de 2015 pela junção dos danos da recessão econômica com o uso pesado e manipulado de uma velha arma da direita: “o combate à corrupção”. Desde o chamado “mensalão”, em 2005, ficou clara a indispensabilidade de uma reforma política que fortalecesse o Estado, ampliasse a democracia, acabasse de pronto com o financiamento empresarial de campanha e que retirasse a atividade política da secular condição de refém do poder econômico e financeiro. Contudo, o governo não se empenhou devidamente pela Reforma Política democrática, pelo fim do financiamento empresarial de campanhas eleitorais. A direita sempre pautou a Reforma Política com o objetivo de mutilar a democracia e manter esse tipo de financiamento. Já a esquerda e os setores progressistas se dividiram, entre outros motivos, por visões conflitantes em relação à convocação de uma Assembleia Constituinte exclusiva, e assim não tiveram força para viabilizar a Reforma Política. Sem essa reforma, a bandeira do combate à corrupção foi assumida, oportunisticamente, pela direita. O governo  adentrou em um verdadeiro campo minado que, estruturalmente, o expôs a escândalos de corrupção que, manipulados e potencializados pela grande mídia, provocaram uma fratura na confiança que o povo depositava no governo e na esquerda.
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Os fatos positivos, no entanto, não podem ocultar erros e insuficiências tanto do governo quanto dos movimentos. Em diversas oportunidades, o movimento sindical não alcançou a politização e a unidade política compatíveis com o grau de acirramento do confronto com a oposição. O governo, no curso da acirrada luta política, se relacionou insuficientemente com a sua base de movimentos sociais, salvo em momentos críticos. Subestimou também o papel das entidades organizadas na Coordenação dos Movimentos Sociais (CMS) e de importantes organizações da sociedade civil, como a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Lideranças do governo alimentaram a concepção errônea – com respaldo de certas áreas dos movimentos  – de que a mobilização popular poderia desestabilizá-lo. Essa concepção inculcou o imobilismo e reduziu o papel crítico e impulsionador dos trabalhadores. Partidos e outros segmentos políticos com presença nos movimentos sociais (conservadores ou esquerdistas) em muitas ocasiões se somaram à oposição ao governo, principalmente no segundo mandato da presidenta Dilma – inclusive em apoio ao golpe. Os ensinamentos desse período apontam no sentido de que as entidades e os movimentos dos trabalhadores e do povo devem alcançar outro patamar de politização, ter autonomia e protagonismo na luta pelo poder. Precisam combinar o apoio aos governos progressistas às jornadas por suas bandeiras, buscando impulsionar o governo pelas mudanças e, ao mesmo tempo, exercer o indispensável combate às forças conservadoras.
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Um ano do impeachment: a “agenda maldita”
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A “agenda maldita” entreguista e neoliberal, expressão dos interesses das grandes potências e do capital financeiro, fragiliza as bases da soberania nacional com o desmonte do Estado e dos mecanismos indutores do desenvolvimento. Estão no alvo a Petrobras e a cadeia de petróleo e gás; o BNDES e os mecanismos de financiamento de longo prazo; a política externa como instrumento do desenvolvimento. Desmontam-se empresas privadas estratégicas para a economia brasileira, entre elas as da indústria da defesa. Vendem-se vastas extensões de terra e aliena-se concessões na província petrolífera do pré-sal a grupos estrangeiros, tramando também o fim do regime de partilha. Debilita-se o Estado nacional deixando-o sem condições de fomentar a indústria e reverter a desindustrialização. A ociosidade na indústria brasileira bate recordes. Em 2016, a utilização da capacidade instalada foi de 63%. Isso significa que 37% das máquinas, equipamentos e instalações da indústria ficaram parados. A participação dessa atividade no PIB caiu 3,8% em 2016 em relação ao ano anterior. Em 2016, o Brasil teve a pior taxa de investimentos dos últimos 20 anos, de 16,4% do PIB, e o investimento oriundo das estatais caiu em 50% entre 2013 e 2016. A recessão, em 2015 e 2016, acumulou queda de 7,2% do PIB, trajetória que se mantém em 2017. Enquanto isso, os juros sobre a dívida pública drenam para o rentismo, anualmente, 45% do orçamento federal.
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A resolução da Comissão Política Nacional divulgada na íntegra abaixo, assim como a tese do 14º Congresso Nacional, tem um espaço dedicado para COMENTÁRIO (Dúvidas, críticas ou sugestões). Basta o filiado/a filiada (Com cadastro no PCdoB Digital) passar o mouse sobre o parágrafo que queira comentar, ou clicar no ícone COMENTÁRIO no local onde pretende escrever. O acesso será com o mesmo login e senha (do RECADASTRAMENTO realizado no âmbito do último Congresso). Os comentários serão avaliados e publicados em no máximo 72 horas. Contribua com o debate do 2º Congresso Extraordinário do PCdoB.   LEIA A SEGUIR: Um novo ciclo de lutas em defesa da democracia, do Brasil e dos direitos do povo 1 – Uma viragem política de grande envergadura A eleição de Jair Bolsonaro representa o término do ciclo político iniciado em 1985, com o fim da ditadura militar, que teve na Constituição de 1988 um marco da consolidação da redemocratização do país, da conquista de direitos ao povo brasileiro, passando pela resistência ao neoliberalismo na década de 1990, pelos avanços protagonizados pelos governos progressistas desde 2003 até o golpe jurídico-parlamentar de agosto de 2016. Com o resultado da disputa político-eleitoral de 2018, abre-se um novo período político, marcado pelo ineditismo da ascensão, desde 1985, de uma força de extrema-direita à presidência da República. Um governo determinado a realizar, a ferro e fogo, uma agenda ultraliberal, neocolonial e anticivilizacional. Tal feito representa uma derrota política, ideológica e estratégica para o conjunto das forças progressistas, patrióticas e democráticas, em especial as forças da esquerda política e social. A eleição de Bolsonaro é resultante de múltiplas causas. Faz parte, como se explicitará adiante, de um fenômeno mundial; além disso, sua vitória foi respaldada pelo imperialismo estadunidense. No âmbito interno, deriva de uma frente constituída pela ampla maioria das classes dominantes, pelos monopólios econômicos e financeiros, e por um arranjo político que coesionou a direita com setores do centro do espectro político nacional. Sua campanha milionária mobilizou recursos materiais, ideológicos e midiáticos, fazendo intensa “guerra digital”. A massiva distribuição de fake news criou factoides e tirou do centro do debate eleitoral as propostas e os projetos para o Brasil, manipulando a opinião pública e o eleitorado. Eleitorado que por longo período foi alvo de intensa campanha midiática que demonizou a política como um todo e desmoralizou sobretudo a esquerda com o estigma da corrupção. Teve ainda importante destaque no desfecho da disputa eleitoral a participação ativa – e partidarizada – de expoentes do Poder Judiciário e do aparato policial que, a partir da operação Lava Jato, tem interferido intensamente nos rumos da política nacional. Entretanto, apesar da derrota, na reta final da disputa eleitoral formou-se em torno da chapa Fernando Haddad e Manuela D’Ávila um amplo movimento cívico e democrático contra a candidatura de Bolsonaro que obteve 47 milhões de votos. Não se trata de um fenômeno isolado A ascensão ao poder como a de Bolsonaro não é um fato isolado, é a expressão brasileira desse fenômeno maior do crescimento de forças de ultradireita ao redor do mundo. Este fato se desenvolve em um complexo e intricado quadro de transformações do cenário internacional, onde a crise do liberalismo e a questão nacional emergem com força. Deste quadro se sobressaem a continuidade da crise capitalista, as transformações no processo produtivo com a chamada 4ª revolução tecnológica e uma luta intensa em torno do reordenamento do sistema internacional. O velho liberalismo político e econômico se encontra em crise. O modelo de globalização neoliberal, regido pelo prisma da financeirização, as medidas de austeridade implantadas como resposta à crise do capitalismo, somadas às transformações produtivas decorrentes das inovações tecnológicas, têm ampliado o fosso entre o capital e o trabalho, produzindo a retirada de direitos e a desvalorização do trabalho e gerado uma enorme massa de desempregados. Em busca de saídas para enfrentar a crise e o descarte da massa crescente dos deserdados – tidos como “imprestáveis” ao capital nesta atual etapa –, as classes dominantes se encontram divididas. De um lado, os que querem enfrentar a situação mantendo os fundamentos do liberalismo político, ainda que enfraquecidos pela incompatibilidade crescente entre neoliberalismo e democracia. De outro, o robusto número de países, onde forças da extrema-direita já exercem o poder, ou parcela dele, revelando que frações relevantes das classes dominantes aderiram ao extremismo de direita. Há, ainda, outro polo, que apresentam como perspectiva para o enfrentamento do atual quadro de crise da globalização liberal o fortalecimento de seus projetos nacionais autônomos, como China e Rússia, e colocam no centro a luta pelo desenvolvimento soberano e compartilhado e a defesa da paz. É neste contexto de disputa em torno do reordenamento do cenário internacional, que as potências imperialistas se movimentam para conter a emergência de novos polos de poder. E, dentro dessa chave, pode-se compreender a chamada guerra comercial deflagrada pelos EUA contra a China. De igual modo, é o que se observa com a adesão de parcelas significativas das classes dominantes brasileiras ao projeto de Bolsonaro. Para elas, se impõe a necessidade de um governo autoritário para tornar realidade seu programa ultraliberal e neocolonial. Nesta mesma ótica, somente um governo deste naipe seria capaz de produzir um novo alinhamento do Brasil aos interesses dos Estados Unidos na arena internacional, contribuindo para conter o processo de transição em curso. A moldura internacional que contribuiu para a vitória de Bolsonaro se completa com um contexto regional, no qual a América Latina se transformou em um laboratório de experimento do imperialismo, do uso do poder Judiciário com fins políticos, com vistas a conter processos políticos direcionados a promover a democracia, o desenvolvimento soberano e os direitos sociais. 2 – O caráter do governo Bolsonaro A eleição de Bolsonaro instaura um novo ciclo político no país. E os traços iniciais de sua gestão comprovam que seu governo é de caráter autoritário na política, ultraliberal na economia, retrógrado nos costumes e com forte viés neocolonialista.   Trata-se de uma aliança entre reacionários, conservadores e liberais de direita, corporações do Estado que, sob a égide direta dos setores rentistas, buscam consolidar a nova ordem política, econômica e social, para alterar o regime político democrático garantido pela Constituição. Tal aliança possui raízes na história política brasileira e construiu a vitória de Bolsonaro com base em um trabalho sistemático, de folêgo, de caráter ideológico-político-cultural. As forças progressistas não perceberam ou menosprezaram esse trabalho que resultou na vitória do que se convencionou chamar de “nova direita”, que nada mais é que a extrema-direita. O discurso desta nova direita expressa a exacerbação de um falso nacionalismo, de um engodo de que o corte de direitos é capaz de alavancar o desenvolvimento, e de um moralismo com traços inquisitoriais, e faz da intolerância e do ódio contra a esquerda, contra a população LGBT, contra os negros, uma de suas marcas. Dissemina a intolerância religiosa, manipula a religiosidade do povo, exalta a negação da política, e o individual sobre o social. O discurso e o programa de Bolsonaro são marcados por uma ação corrosiva, destrutiva até de conquistas civilizatórias, como o elenco de direitos sociais, o conjunto de políticas públicas e as instituições focadas nos direitos e no bem-estar do povo que o país constrói desde a década de 1930. Bolsonaro tem buscado se apresentar como um governo de ruptura com a política. Segue midiaticamente satanizando “a velha política”, mantém os partidos relativamente à margem da constituição de seu ministério; mas, aos poucos, é impelido a dialogar com sua base parlamentar, sobretudo em relação aos cargos federais nos estados. Apesar dos desgastes iniciais, como as crises envolvendo os filhos do presidente, as graves denúncias envolvendo o senador Flávio Bolsonaro, e dirigentes do PSL, os desencontros no núcleo do governo e na sua base de sustentação, o governo tem força e não pode ser subestimado. Saiu das eleições com um capital político grande, com amplo respaldo dos setores econômicos e financeiros, de parcela expressiva do poder Judiciário, com a complacência de grande parte dos meios de comunicação, além de ter todas as condições para formar uma forte base parlamentar. O resultado eleitoral não dá carta branca a Bolsonaro No entanto, é necessário pontuarmos que, apesar dessa vitória, o eleitorado brasileiro não é largamente de direita. Muito menos de extrema-direita. Ele assiste ao desgaste da política, não vê solução para seus problemas, sente os impactos da crise, encontrou uma força, com um discurso mobilizador, que promete colocar as coisas no lugar e impor certa ordem no caos. Do mesmo modo, não é possível afirmar que os votos dados a Bolsonaro sejam um referendo ao projeto de privatizações e de desmonte do Estado. Dados do Datafolha confirmam esta afirmação, ao indicar que 60% dos brasileiros se dizem contrários às privatizações e 57% rejeitam a redução das leis trabalhistas. Os polos de poder do governo A coalizão de Bolsonaro abriga em si distintos núcleos, polos de poder não homogêneos, com agenda própria e em disputa pelos rumos e a visão do governo. Apesar de não possuírem consenso em torno de um projeto de país, tais polos se unificam em torno da agenda econômica ultraliberal – que opera sem intermediários – sob o prisma do rentismo. a) O Clã É o círculo ideológico que expressa o pensamento de fundo do presidente e de seu entorno político. É composto pelo núcleo familiar (filhos), lideranças evangélicas e expoentes da bancada da bala. E conta ainda com Olavo de Carvalho e Steven Bannon como ideólogos e estrategistas do neoconservadorismo. Buscam incidir de fato no governo, indicando nomes para ministérios, como o de Relações Exteriores, da Educação, da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos. É dele a responsabilidade de manter mobilizado o setor mais extremista da base social e política de apoio do governo.  Embora expresse força, o Clã, enquanto núcleo político, é também o mais vulnerável e se tornou o alvo predileto da imprensa. b) A Farda É o núcleo composto por expoentes das Forças Armadas que, após 34 anos, retornaram à vida política do país com a eleição do capitão da reserva, Jair Bolsonaro, e do vice-presidente, general Hamilton Mourão. Desde a redemocratização, não se produziu um momento com a presença tão extensiva de militares em funções de governo, com destaque para o Exército. Até o momento, já há 45 militares de alta patente no governo, com destaque para a presença do Exército, com 18 generais e 11 coronéis da reserva, entre tantos outros. Um dos motivos para tamanha presença é a completa falta de quadros políticos no entorno de Bolsonaro que, sem alternativa, teve de se apoiar na expertise de quadros das Forças. As Forças Armadas, em que pese não homogêneas, possuem uma visão estratégica de país, mesmo que predominantemente na história tenham desvinculado a dimensão democrática de seu projeto nacional. Nesta nova realidade resta saber como irão se posicionar diante de um projeto ultraliberal, de privatizações e de um alinhamento aos EUA que se acerca a vassalagem. O vice-presidente, general Mourão, criticado abertamente por expoentes do Clã, mantém intensa agenda de encontros, entre os quais se destaca o recebimento de expoentes da Central Única dos Trabalhadores, CUT, para debater a reforma da Presidência. c) A Toga Trata-se do expoente jurídico e policial do governo. Envolve, em essência, setores do Judiciário de primeira e segunda instâncias e Ministério Público, e da Polícia Federal, que ganharam protagonismo na Operação Lava Jato, e possuem como referência principal o ex-juiz e atual ministro, Sergio Moro. Entre os pontos da agenda de Moro, destacam-se o Pacote Anticrime e a aprovação das Dez Medidas de combate à corrupção, que no fundo buscam revisar a dimensão garantista de nossa Constituição, como presunção de inocência, limite do uso do habeas corpus e ampliação de penas. E ainda manterá sob mira “inimigos internos”, tendendo a atuar na criminalização de movimentos, lideranças e partidos políticos, sobretudo da esquerda. A participação de Sergio Moro é um trunfo importante para o governo Bolsonaro. Contudo, será o mais cobrado pelos deslizes de membros do governo e terá de apresentar resultados para além do combate à corrupção. Até o momento tem havido um silêncio ensurdecedor sobre as sérias acusações contra um dos filhos do presidente. d) O Mercado Os agentes do mercado financeiro já não atuam por intermediários. Escalaram para postos-chave do governo, sobretudo da Fazenda, um time dos sonhos do rentismo: agentes do próprio mercado, como se vê na nomeação de um funcionário do Santander para presidente do Banco Central. Sob a batuta de Paulo Guedes, o fiador da aliança de Bolsonaro com os círculos financeiros internacionais e nacionais, a agenda econômica a ser implementada consiste em: dar uma guinada ultraliberal na orientação econômica brasileira, direcionar o Orçamento Federal para assegurar os ganhos fabulosos da banca, implementar um ambicioso projeto de privatização, reduzir impostos, zerar o déficit público e realizar reformas consideradas regressivas e de caráter conservador – como a da Previdência, prioridade número um do novo governo. É o núcleo com maior nitidez de objetivos em torno de sua agenda, conta com vasto apoio entre os setores econômicos, a grande mídia e as elites do país. O ministro da Economia tem atuado de forma independente do articulador político do Congresso, o que tem criado atrito com o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni. e) Forças que atuam no Congresso Entre os parlamentares e partidos que apoiam o governo Bolsonaro, estão núcleos que representam expoentes da política tradicional, notadamente da direita e extrema-direita. Não é um bloco coeso, mas um agrupamento de matizes políticos diversos, distintos interesses corporativos que atuam no Congresso por intermédio de frentes parlamentares, como a ruralista, a evangélica e a da bala. 3 – As primeiras ações do governo Bolsonaro confirmam seu caráter Apesar de desencontros e improvisações, o caráter autoritário, antipovo e entreguista do governo Bolsonaro se expressa nas primeiras iniciativas adotadas pelo presidente e os principais núcleos do governo. A política externa do governo Bolsonaro realiza uma profunda reorientação diplomática do Itamaraty, levando o país a se afastar de diretrizes como a não ingerência em assuntos internos, a autodeterminação e a busca da solução mediada dos conflitos, preceitos caros à tradição diplomática brasileira. Essa nova orientação visa a estabelecer um alinhamento automático do Brasil com as ações dos EUA, distanciando-o do movimento de desconcentração de poder na arena internacional. São expressões práticas disto o envolvimento ativo do Brasil na desestabilização do governo da Venezuela, e a promessa de mudança da embaixada de Tel Aviv para Jerusalém – ambas com graves repercussões geopolíticas para o país.   O caso da Embraer merece destaque por seu papel estratégico para o país e pelos projetos na esfera da defesa que estão associados à empresa. A empresa de maior valor agregado no Brasil será vendida por uma pechincha de pouco mais de U$ 4 bilhões, que correspondem à parte de suas encomendas. Segundo Bolsonaro, a proposta “preserva a soberania e os interesses nacionais”, por mais que, após dez anos, a Boeing possa comprar os 20% restantes de ações, nas mãos dos acionistas controladores da Embraer. Chama a atenção a anuência dos militares para a realização desta venda, pois a operação pode comprometer o projeto KC-390, avião de transporte militar.   O Pacote Anticrime apresentado pelo ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, é a expressão de uma concepção autoritária, punitivista, que usa da violência para combater a violência. Tal medida é um remendo ao arcabouço legal do país, violando preceitos constitucionais, como a presunção de inocência, ao defender a prisão em segunda instância.  No conjunto das propostas, não há indicações sobre a realização de investimentos em inteligência e infraestrutura de segurança, em valorização e capacitação dos profissionais da área. Tais medidas ampliarão a população carcerária e darão licença para matar – o que atingirá a população mais pobre e jovens em situação de vulnerabilidade. Em essência, essas medidas ficam longe de responder às demandas efetivas da sociedade, que exige o direito à paz, à segurança, num país que na última década perdeu 553 mil vidas por mortes violentas – ou 153 pessoas por dia.   Por sua ineficácia, por conter elementos que uma vez mais atacam o Estado Democrático de Direito, a jornada dentro e fora do Parlamento para se contrapor a este pacote pode aglutinar amplos setores da sociedade, do mundo jurídico, do movimento de direitos humanos.   4 – Nova tática: união de amplas forças tendo a democracia como bandeira central Para o PCdoB, a tática deve emanar da nova realidade imposta pelo resultado das eleições de 2018. Diante do vasto reagrupamento das forças reacionárias no país, a questão principal é a união de amplas forças políticas, sociais, econômicas e culturais, do campo democrático, patriótico e popular, para se opor ao governo Bolsonaro, impor derrotas e reveses à sua agenda. É no caminhar de uma ativa resistência nas ruas, no parlamento, na luta de ideias, que se reverterá as atuais adversidades, acumulando forças e descortinando perspectivas de vitórias vindouras. Deve reger a constituição dessa frente a união de todas as forças possíveis de serem unidas, com o objetivo de isolar e derrotar o governo da extrema-direita. Essa é a tática geral da luta atual. O objetivo estratégico de derrotar a hegemonia política dessas forças reacionárias e conquistar a hegemonia das forças democráticas, populares e progressistas, se encontra, diante dessa nova realidade, num horizonte distante. Dessa análise se conclui que o campo da nação e da classe trabalhadora se encontra num período de defensiva estratégica. Essa nova tática tem como foco emergencial: a defesa da democracia ameaçada. Isto decorre das ameaças explícitas à liberdade política e às liberdades básicas, ao Estado democrático de direito, por ação de um governo com ímpeto saliente de autoritarismo e tendência fascistizante. O fato de o Estado democrático de direito ter sido mutilado por inúmeras violações abre caminho e expõe o país a um grave risco: a mudança do regime político democrático instituído pela Constituição de 1988. Essa flexão que aponta a democracia como foco emergencial da tática não desdiz, nem colide, o Programa do PCdoB que concebe como vértice a questão nacional (soberania nacional) da luta por um novo projeto de nacional de desenvolvimento, relacionando-a com a causa democrática e o progresso social. Conjunturalmente, ganha centralidade a bandeira democrática, visto que as liberdades definem as circunstâncias e as condições nas quais se realizará a resistência. Trata-se, então, de formar uma frente de perfil democrático marcante, de características antifascistas, podendo assim combinar uma relação de ação comum desde a esquerda, centro-esquerda, setores populares, personalidades liberais e do centro político. Exemplos da prática política recente demonstram a possibilidade desse tipo de convergência, como alianças no Nordeste nas eleições presidenciais de 2018, o arquivamento da proposta do execrável projeto que institui a Escola Sem Partido, e a aliança pela restauração do Estado Democrático de Direito. A aplicação da tática geral para alcançar essa união ampla requer uma conduta política que escolha e direcione as lutas que sejam capazes de acumular forças, tendo em conta o quadro muito desfavorável ao campo progressista. Seria errado, portanto, num momento político com tais características, ter como centro a radicalização de posições; ao contrário, é preciso ter presente quais ações, quais combates, proporcionam a ampliação de forças. Para ser efetivamente combativa, o pressuposto é ser uma tática ampla, flexível, capaz de reunir um leque vasto de forças e pô-las em movimento na ação oposicionista. A radicalização eficaz e consequente virá do grau dessa ampliação e de uma viragem na correlação de forças que seja favorável à oposição. O papel da esquerda política e social A esquerda se destaca como principal núcleo de oposição a Bolsonaro, e no curso da jornada oposicionista está chamada a desempenhar papel de destaque na construção da frente ampla. Todavia, a divisão que a debilitou na campanha eleitoral persiste. Ela está desafiada a construir sua convergência num quadro em que já não há uma força hegemônica em seu âmbito. Sua necessária unidade poderá ser construída dentro e fora do parlamento a partir de composições e formas distintas às do ciclo anterior. Têm surgido diferenças e divergências entre os partidos de esquerda, como é comum quando emergem ciclos políticos novos. Exemplo disto se deu na eleição à presidência da Câmara dos Deputados. Para o PCdoB, tais discordâncias devem ser superadas pelo debate, pelo exame crítico e respeitoso das diferenças e sem que nenhuma legenda se arrogue detentora do monopólio da oposição. Iniciativas como o Observatório da Democracia, projeto conformado pelas Fundações do PT, PCdoB, PSB, PDT, PSOL, contribuem para a gestação de entendimento em outras esferas da vida política. É falsa a contraposição entre “frente ampla” e “frente de esquerda”. Uma ampla e forte oposição necessita do protagonismo do povo, da classe trabalhadora, da mobilização das massas, da ascendente ação dos movimentos sociais e entidades classistas. A pressão popular, a luta política nas ruas, será um elemento de grande relevância. Outra tarefa de grande importância é conseguir, a partir do diálogo, construir convergência com entidades de representação como OAB, setores da igreja católica e de outras religiões, juristas, acadêmicos, artistas, em torno da defesa da democracia, do Estado de direito e das conquistas históricas do nosso povo. A Frente Brasil Popular, a Frente Povo Sem Medo e o Fórum das Centrais sindicais, entre outras articulações, atuam no campo da frente ampla oposicionista com sua autonomia e bandeiras – buscando sempre, é claro, convergências que resultem em massivas mobilizações respaldadas por amplas forças. Sempre que amplas coalizões políticas e sociais ganharam as ruas, o Brasil e sua gente saíram vencedores.   Resistência, Amplitude e Sagacidade Com amplitude, sagacidade e flexibilidade, o campo da oposição pode explorar as tensões e contradições de interesses e ideias que existem no governo Bolsonaro e na sua base de sustentação no Congresso Nacional e na sociedade. Na base de sustentação, há quem respalde integralmente a pauta da agenda ultraliberal e neocolonial, mas tem restrições ao crescente sufocamento do Estado Democrático de Direito pelo Estado de exceção.  Neste cenário, manobras, alianças pontuais e passageiras podem ocorrer para explorar fissuras no campo adversário, como fator de reforço da jornada oposicionista. A dinâmica da atuação da frente, por sua heterogeneidade e composição policlassista, rege-se pelo binômio unidade e luta; sobretudo agora, no seu nascedouro, se a ênfase for na luta, isto é, na exacerbação das divergências e na demarcação de posições, sua constituição terá enorme dificuldade. Essa disparidade de matizes das oposições – que abarca forças resolutas no enfrentamento ao governo, forças intermediárias e mesmo vacilantes – demanda coesão da esquerda e das forças populares para que a frente tenha uma direção política consequente, cumpra sua missão de isolar e impor derrotas ao governo. As principais bandeiras Para o PCdoB, a frente ampla se constituirá, no percurso das batalhas, em torno destas bandeiras: Defesa da democracia, da soberania nacional e do patrimônio público, dos direitos do povo e da classe trabalhadora. Como já destacado, a bandeira democrática ganha centralidade. a) A defesa da democracia se materializa nas jornadas em defesa das liberdades, dos direitos civis e sociais contidos na Constituição; do Estado Democrático de Direito, contra o Estado de exceção; da autonomia das universidades, da existência da Justiça do Trabalho, seriamente ameaçadas; da liberdade de imprensa e de expressão, alvos de restrições, chantagens e ameaças. Além disso, se somam às batalhas para restabelecer o equilíbrio entres os Poderes da República, notadamente recompondo prerrogativas do Legislativo; contra a censura às manifestações artísticas; e o rechaço às ameaças autoritárias do presidente Bolsonaro no sentido de criminalizar, e mesmo banir, os partidos de esquerda e os movimentos sociais. b) Defesa soberana do país e o patrimônio nacional. Ganham relevância as jornadas em defesa das empresas e dos bens estratégicos do país, em especial da Petrobras, do pré-sal e do regime de partilha, contra a entrega dessa riqueza às petroleiras estrangeiras; a oposição firme à política externa subserviente aos EUA; defesa dos princípios da diplomacia brasileira de respeito à soberania e à autodeterminação dos países, e não ingerência em assuntos internos; e busca de soluções pacíficas e negociadas para os conflitos. c) A defesa dos direitos do povo e da classe trabalhadora. Com a política ultraliberal do ministro Paulo Guedes, os principais alvos serão saúde, educação, segurança, assistência social, direitos básicos, que seguirão sob ameaça de um processo crescente de cortes, de queda de qualidade e abrangência, em consequência do arrocho orçamentário advindo da Emenda do Teto do Gasto e outras medidas da chamada austeridade. Já foi anunciado que haverá um novo giro no corte dos direitos trabalhistas, inclusive aqueles assegurados pelo artigo 7º da Constituição (13º salário, FGTS, férias, repouso remunerado). Defesa do direito à aposentadoria: grande batalha A jornada contra a reforma da previdência, em andamento, apresenta-se como uma grande batalha em torno da concepção de Estado e da defesa dos direitos. Essa reforma está vinculada às imposições da Emenda do Teto do Gasto e encerra uma concepção de Estado nacional. Estado mínimo, fraco para impulsionar o desenvolvimento nacional e assegurar ao povo e aos trabalhadores os direitos conquistados em lutas ao longo dos últimos cem anos. E Estado “forte” para canalizar o grosso do Orçamento Federal para os rentistas, banqueiros e especuladores. A defesa dos direitos dos trabalhadores, portanto, a uma aposentadoria justa e digna, se apresenta como a principal batalha a ser enfrentada neste primeiro semestre de governo. Ela será travada dentro do Congresso Nacional e ecoará nas demais Casas Legislativas, nas ruas com as mobilizações unitárias lideradas pelas centrais dos trabalhadores e trabalhadoras e pelo conjunto dos movimentos. É preciso desde agora engajamento e preparação para que se realize com êxito uma agenda de mobilização das centrais, com atos de rua, que se iniciam em 20 de fevereiro. Intensa luta de ideias deverá ser empreendida em todos os espaços possíveis, sobretudo nas redes. Lula Livre As forças reacionárias para vencer as eleições tiveram que, arbitrariamente, prender o ex-presidente Lula com o objetivo de excluí-lo da disputa presidencial de 2018. Em decorrência dessa afronta ao Estado Democrático de Direito, na esfera democrática, destaca-se, entre as tarefas das forças progressistas, uma campanha nacional e internacional pela libertação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que sofre uma prisão arbitrária e injusta.   6 – Preparar o PCdoB para um novo ciclo político A construção partidária requer a compreensão pulsante da realidade da sociedade brasileira, e de suas transformações e implicações na vida partidária. A questão está em colocar o PCdoB à altura dos desafios que o novo ciclo político nos exige, traçando novas linhas de acumulação, novos caminhos, a partir da atualização da tática. Construir o partido em conjunto com a resistência A situação concreta exige resistência, amplitude e sagacidade, e, apesar dos ataques à esquerda, é possível crescer na luta pela democracia. Desse modo, tem lugar a necessidade de compactar a ação da direção partidária e promover a atuação das diferentes frentes em sincronia e com foco no planejado coletivamente. Essa nova realidade exige um partido forte, coeso e influente nos parlamentos, nos movimentos sociais, nas lutas das mulheres, dos trabalhadores e da juventude. E, ainda, protagonizando o debate de ideias na sociedade, com condições de cumprir seu papel aglutinador das forças democráticas. Além das formas tradicionais de mobilização, o uso adequado das novas tecnologias de comunicação e informação pode contribuir para fortalecer a organização partidária e a propaganda das nossas ideias, em diálogo direto com a sociedade, para mobilização e engajamento de filiados, militantes, simpatizantes, amigos e eleitores. Fortalecer as direções partidárias Na luta político-ideológica, é preciso persistir no desenvolvimento da teoria de Partido e na atualização da política de estruturação partidária. É estratégico o papel das direções partidárias em todos os níveis, com funcionamento regular e dinamismo para dar respostas aos desafios apresentados por essa nova realidade, além de serem o polo organizador de toda a nossa ação. É no âmbito das direções que o binômio ação política/estruturação partidária, alicerçado na ação planejada, ganha existência efetiva e, por isso, assume importância estratégica. Só assim poderemos unir forças para alcançar êxitos políticos e eleitorais nas eleições municipais de 2020, preparando desde já os comitês municipais para esta batalha – a antessala de 2022 –, atraindo quadros políticos, lideranças do povo, trabalhadores, mobilizando militantes e filiados para enfrentar os desafios presentes. A luta pela superação da cláusula de barreira e a incorporação do PPL A adoção em 2016 da cláusula de barreira, um instrumento autoritário que cerceia a liberdade organizativa dos partidos políticos, constituiu importante obstáculo para a vida democrática. O não cumprimento desta cláusula pelo PCdoB, na eleição de 2018, representou um revés importante sobre o qual a direção nacional buscou atuar de forma efetiva. Como resultado deste esforço, o PCdoB e o PPL desencadearam um elevado diálogo político programático, buscando uma solução política e jurídica para atender às exigências, na forma da lei, de superação da cláusula de desempenho e assim criar as condições para que sigam desempenhando um papel relevante na resistência democrática e na busca de soluções de fundo para que o Brasil se torne uma nação próspera, democrática, soberana e socialista. Desse diálogo frutífero, veio a convicção de que as duas legendas possuem afinidades e convergências programáticas e, em face ao presidente eleito da extrema-direita, têm o entendimento comum: a visão tática confluente de que é preciso agregar um leque amplo de forças para empreender a resistência e a oposição democrática, anunciando assim a unificação do PCdoB e PPL. Com a realização do nosso congresso extraordinário, novas tarefas surgiram no trabalho cotidiano das comissões de enlace, nos níveis nacional, estadual e municipal. A unidade entre PPL e PCdoB resultará no reforço ao enfrentamento das medidas autoritárias, antidemocráticas e de lesa-pátria em curso. De igual modo, reforça o papel das forças revolucionárias e patrióticas que lutam no Brasil por uma Pátria Livre, Democrática e Socialista. Caminhamos para o Centenário do PCdoB, e as diretrizes aprovadas no 14º Congresso abordam com abrangência e atualidade as diferentes frentes da estruturação partidária. A jornada da oposição se fortalecerá crescentemente O Partido Comunista do Brasil, legenda quase centenária, desde a República Velha em conjunto com as demais forças progressistas do país, lutou contra todos os governos e regimes autoritários e tiranos que infestaram a história da República. Com base nessa experiência, transmite ao povo brasileiro a certeza e a confiança de que, apesar das graves ameaças que pairam sobre o país, não será fácil a Bolsonaro realizar a obsessão de sepultar a democracia brasileira. Ela deitou raízes profundas no solo pátrio, custou à nação muitas lutas e vidas. A resistência rumo a uma oposição vigorosa realiza seus primeiros passos, e tem potencial para se efetivar no âmbito de toda a vida política e social do país, a começar pelo Congresso Nacional e outras casas legislativas, se estendendo para os movimentos sociais, as organizações da classe trabalhadora, segmentos do empresariado, o universo acadêmico, a intelectualidade, os artistas, o mundo jurídico, setores religiosos, e inclusive os integrantes de instituições da República. Os governadores e os prefeitos do campo democrático terão importante papel nesta empreitada, tal como tem atuado o Prefeito de Aracaju, Edvaldo Nogueira e o Governador do Maranhão Flávio Dino. O PCdoB está convicto que no curso das mobilizações e da resistência, uma maioria progressivamente se levantará para defender a democracia, os interesses do Brasil e os direitos do povo e da classe trabalhadora. Brasília, 15 de fevereiro de 2019 Comissão Política Nacional do Partido Comunista do Brasil (PCdoB) Do Portal PCdoB
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Projeto de Resolução ao 15º Congresso do Partido Comunista do Brasil   O 15º Congresso ocorre no contexto das tendências das lutas de classes no âmbito nacional e internacional, e no das exigências das saídas para as graves crises em que está mergulhado o país. Ele deverá ensejar o revigoramento do PCdoB para superar os imensos desafios que se apresentam em relação à sua presença na vida institucional do país.   O Partido encaminha-se para celebrar seu centenário de lutas pela construção soberana do Brasil, reafirmando – e tendo em conta os desafios da contemporaneidade – seu compromisso com a classe trabalhadora e com o socialismo que tem por caminho a construção de um novo Projeto Nacional de Desenvolvimento. Ao mesmo tempo, empreende a necessária atualização e renovação de suas linhas de ação e construção partidárias, para que estejam de acordo com as exigências atuais das lutas de classes.   Ao longo de sua jornada, o Partido enfrentou as mais diversas situações. Longos períodos em que o autoritarismo, de governos conservadores ou de ditaduras, implicou a cassação de mandatos, prisões e perseguições de toda espécie e a resistência prolongada dos comunistas; e aqueles em que houve ascenso democrático e exercício das liberdades; embates ideológicos complexos, como aqueles travados à época da crise do socialismo e da ofensiva neoliberal na década de 1990; e, mais recentemente, na atuação institucional, como parte dos governos progressistas.   Em todos esses momentos, o Partido defendeu uma política de ampla união de forças em defesa da democracia, do povo e da nação, e procurou manter sólidos laços com a vida e a luta dos trabalhadores e das camadas populares. Disso derivam a força, o prestígio e a permanência do PCdoB.   Mais uma vez, o Brasil e seu povo vencerão, a democracia será fortalecida, os direitos dos trabalhadores e do povo serão crescentes. O PCdoB estará sempre nas primeiras fileiras desse combate, ao lado de todas as forças avançadas, para fazer do país uma grande nação, respeitada e querida pelo povo e em todo o mundo.    I – TRANSIÇÃO NA ORDEM MUNDIAL SE INTENSIFICA E ACELERA NA PANDEMIA   O 15° Congresso do Partido Comunista do Brasil realiza-se em meio à maior crise sanitária mundial do último século. A Covid-19, que varreu e abalou o mundo em 2020 e 2021, intensificou tanto as contradições do modo de produção capitalista dominante no planeta quanto a profunda transição em curso na ordem mundial neste século 21.   A principal característica da conturbada transição em curso são o declínio relativo da superpotência estadunidense e a emergência de novos polos de poder econômico, político, diplomático e militar, oriundos sobretudo da antiga semiperiferia e periferia do sistema internacional. O fenômeno mais representativo dessa tendência é o protagonismo da China socialista como potência, e a recuperação do poder nacional da Rússia. O quadro internacional é de agravamento e expansão das disputas, tensões e confrontações de responsabilidade dos EUA, que tentam de todas as maneiras impedir que outros países trilhem soberana e livremente o caminho da cooperação, da paz, do desenvolvimento econômico e do progresso social.   Diversos Estados estruturam projetos nacionais de desenvolvimento, buscando resguardar sua soberania e ampliar a margem de autonomia no novo contexto geopolítico mundial, marcado por emergente e crescente multipolaridade. Essa evolução abarca países com governos de orientação político-ideológica muito diversa, como a própria Rússia, a África do Sul, a Índia, a Turquia, o Irã e até mesmo a Coreia do Sul (apesar da ocupação militar dos EUA).   Essa mudança na correlação de forças internacional decorre do desenvolvimento desigual das nações e cria um contexto mais favorável para a realização de projetos nacionais contra-hegemônicos, embora ainda persista o quadro de defensiva estratégica gerado pelo colapso do antigo campo socialista no final do século 20.   Lições para o enfrentamento da crise sanitária   A pandemia da Covid-19 gerou uma avalanche de mortes e sofrimento em todo o planeta. Mas a megacrise sanitária não atinge os países de forma homogênea. Aqueles que preservaram estruturas de planejamento e regulação estatal, diante da ofensiva de desmonte neoliberal das últimas décadas – notadamente os países socialistas, mas também países capitalistas como a Coreia do Sul e a insular Nova Zelândia –, conseguiram enfrentar com maior êxito a situação.   Ao longo da crise sanitária, a mortalidade causada pelo novo coronavírus, em proporção ao tamanho das suas populações, foi maior nos países da Europa, nos Estados Unidos, na Índia e na América Latina. Um contraponto fundamental a este balanço funesto é dado pelo desempenho dos países de orientação socialista. A China implementou um programa intenso e integrado que lhe permitiu conter a situação e retomar a normalidade das atividades econômicas em curto espaço de tempo. Desenvolveu quatro vacinas próprias, disponibilizando quase 600 milhões de doses para outros países, em muitos deles gratuitamente. As mesmas trajetória e solidariedade foram trilhadas por outros países socialistas, como Cuba e Vietnã.   A ortodoxia neoliberal é incapaz de responder aos desafios do mundo   A partir de março de 2020, a pandemia fez desabar uma economia que mal havia conseguido se recuperar da crise deflagrada em 2007-2008 que, por sua vez, foi o desdobramento de uma crise mais geral, de longa duração, de natureza estrutural do capitalismo. A economia dos EUA cresceu de 2010 a 2019 à razão de 2% ao ano, a do Japão a 1,5% e a da Europa a 1%. Desde 1991, até 2019, último ano antes da instalação da crise sanitária, a participação dos Estados Unidos e dos países da Europa Ocidental no PIB mundial, medido por Paridade de Poder de Compra, já havia encolhido de 41,6% para 28,9%, enquanto a participação da China e da Índia passou de 6,6% para 27,3%.   Em 2020, enquanto os PIBs da China e do Vietnã tiveram crescimento de 2,3% e 2,4%, respectivamente, com a chegada da pandemia, a economia mundial caiu 3,3%, a dos Estados Unidos teve retração de 3.5%, a do Brasil 4,1%, a dos países da zona do Euro 6,6% e a do Reino Unido 9,9%. Essa mesma dinâmica desigual se expressa em 2021. De maneira geral, os países em desenvolvimento da Ásia foram os menos afetados pela crise, em 2020, e os que sustentam os índices mais elevados de recuperação econômica em 2021.   Depois de posturas negacionistas iniciais de dirigentes como Donald Trump, nos Estados Unidos, e Boris Johnson, no Reino Unido, os países capitalistas centrais abandonaram a ortodoxia neoliberal frente à crise sanitária com amplos programas de financiamento e investimento estatal. Um levantamento do Bank of America revela que, para conter a crise, 97 países selecionados injetaram na economia nada menos de US $25 trilhões (29% do PIB global). Esses governos têm recorrido igualmente à emissão de moeda para financiar o esforço fiscal e monetário. Isso não conseguiu reverter, contudo, pelo menos em curto prazo, as consequências de décadas de desmonte e/ou enfraquecimento dos sistemas de saúde pública e de proteção social nesses países.   Assim, o retorno do Estado, e, com ele, do investimento público como força propulsora da economia – como ocorrera na Grande Depressão e particularmente no segundo pós-guerra –, é um dos desenvolvimentos mais importantes ocorridos devido à pandemia; que pode ou não se transformar em tendência, a depender do andamento da crise e da correlação de forças que venha a se estabelecer como resultado dela.   O declínio relativo dos EUA e a ascensão da China constituem a principal tendência da geopolítica contemporânea   Os impactos multifacetados da pandemia agravam as principais contradições da evolução internacional. Ela acentua e intensifica a dinâmica de desenvolvimento desigual que vem minando as bases da hegemonia dos Estados Unidos, no sistema internacional, e das configurações multilaterais que as materializam. Neste âmbito, os variados movimentos nacionais de questionamento e resistência às assimetrias impostas por essa forma de dominação imperialista decadente têm centralidade na evolução internacional, mesmo que sem assumirem uma retórica ou orientação abertamente “anti-imperialista”.   A crescente disputa entre os Estados Unidos e a China configura a principal tensão geopolítica no mundo, em acelerado agravamento. O objetivo estratégico central dos Estados Unidos é conter a todo custo a China e recompor o dinamismo da sua economia para reverter o declínio relativo da sua hegemonia no sistema internacional. O novo governo Biden deflagra intensa campanha midiática, diplomática e militar contra aquele país, tentando responder ao que os EUA consideram ameaças ao seu papel de potência hegemônica: enfrentar a ascensão chinesa, conter militarmente a Rússia e fazer frente à aliança Sino-Russa.   O vértice da disputa entre EUA e China se expandiu para a fronteira da Revolução Científica e Tecnológica mundial (incluindo a tecnologia 5G), enquanto a Rússia enfrenta um cerco militar cada vez mais hostil com a expansão da OTAN para a Europa Central e do Leste e as tentativas de desestabilizar o seu entorno estratégico. O plano do governo dos EUA, acordado com o G7, é lançar o projeto Build Back Better – B3 (“Reconstruir melhor”) para se contrapor ao projeto de cooperação em infraestrutura Iniciativa do Cinturão e Rota que a China estabeleceu com uma centena de países do mundo.   O governo Biden se movimenta, também, para recompor as relações com os aliados tradicionais do G7 e sua liderança nas instituições multilaterais, ao mesmo tempo em que anuncia pacotes trilionários de investimento público em infraestrutura, transição energética, desenvolvimento industrial tecnológico e inovação. Desfaz-se da política de escalada protecionista e distanciamento da “Aliança Atlântica” de Trump. Contudo, o faz a partir de uma posição de poder relativo mais débil no mundo. É crescente a disposição dos países da União Europeia de buscar maior autonomia em relação aos EUA, como na adoção de um acordo de investimentos e da implantação da tecnologia 5G com a China, e do gasoduto Nord Stream 2 entre a Rússia e a Alemanha.   Os EUA mantêm seu caráter imperialista como política de Estado, instrumentalizando os variados recursos de poder de que dispõe para tentar barrar uma nova ordem multipolar. Sua natureza agressiva se expressa através das chamadas guerras híbridas, em que se incluem sanções e outras medidas coercitivas unilaterais, também através do cerco diplomático e midiático e de tentativas de golpes, da intervenção ou da guerra direta. Violam os mais básicos princípios do humanismo, das relações internacionais e do direito dos povos e nações à autodeterminação. A recente cúpula da OTAN é também a demonstração do caráter belicista do imperialismo.   Os países socialistas – destacadamente a China – desempenham papel central nessa nova realidade geopolítica. Estruturam projetos nacionais de desenvolvimento, de orientação socialista, no âmbito da própria economia capitalista mundial. Não se apresentam, contudo, estruturando um sistema mundial socialista alternativo ao capitalismo. Suas trajetórias nacionais comprovam, no entanto, a viabilidade de projetos socialistas renovados e de sua maior capacidade de combinar desenvolvimento econômico soberano com erradicação da pobreza e da miséria, expansão de direitos sociais e proteção da vida e do bem-estar do povo.   A forma de inserção internacional adotada pelos países socialistas, nas primeiras décadas do século 21, evidencia que o movimento operário, os movimentos populares e as forças progressistas, revolucionárias e de esquerda ainda enfrentam um período de defensiva estratégica no mundo. Neste quadro, a centralidade das tarefas nacionais e democráticas necessariamente se impõe na construção de alternativas estratégicas contra-hegemônicas e anti-imperialistas em países da América Latina e do Caribe, da África, do Oriente Médio, da Ásia e da Oceania.   Cresce a contestação dos trabalhadores, povos e nações   O pano de fundo dos desenvolvimentos e tensões do mundo em transição é o agravamento das contradições inerentes ao modo de produção capitalista dominante: a brutal concentração da riqueza nas mãos de poucos, a multiplicação da miséria, a extrema exploração dos trabalhadores, a precarização das condições de trabalho e de vida, a concentração monopolista, o predomínio do parasitismo financeiro, a destruição de forças produtivas, o desemprego em massa e a degradação ambiental.   A redução do custo da força de trabalho é a arma do grande capital para enfrentar a crise capitalista e ampliar seus lucros. Em quase todos os países, os governos neoliberais aprovam contrarreformas trabalhistas e previdenciárias e promovem medidas antissindicais, para avançar na precarização do trabalho e enfraquecer a resistência dos trabalhadores. As aceleradas mudanças tecnológicas e seu uso intensivo, em benefício exclusivo do capital, criam fenômenos novos, como a individualização das relações no trabalho – nova modalidade de trabalho não regulado, a “uberização” – com jornadas maiores, salários menores e cortes de direitos. No entanto, mesmo com dificuldades e as particularidades em cada país, persistem a denúncia e a resistência para a recuperação dos direitos e também a luta para desenvolver a consciência classista dos trabalhadores.   Os crescentes desespero e desesperança com a dura realidade do capitalismo “liberal” alimentaram, em escala global, uma onda política antissistema, antidemocrática, de extrema-direita de cunho fascista. A derrota eleitoral de Trump nos Estados Unidos ajudou a desarticular o polo aglutinador dessas forças que, hoje, têm o presidente Bolsonaro, ainda que isolado internacionalmente, como um de seus maiores bastiões. Na Europa preocupa o espaço político alcançado por partidos de extrema-direita e protofascistas como o Vox da Espanha, o Chega em Portugal, AfD na Alemanha e os governos consolidados da Hungria e da Polônia, entre outros.   As lutas populares na América Latina e as tarefas internacionalistas   A eleição de Biden não altera a política dos EUA para a América Latina. Contudo, os povos da região resistem e impõem derrotas à contraofensiva imperialista. Ocorrem vitórias importantes com a mobilização popular e nas urnas eleitorais. A eleição de Luis Arce, na Bolívia; a liderança de Alberto Fernandez, na Argentina; a eleição de uma nova Assembleia Constituinte, no Chile; a vitória do professor Pedro Castillo, no Peru, são todos sinais de crescimento das forças progressistas e de esquerda. O Partido expressa sua solidariedade às lutas do povo de toda a América Latina. Em especial, manifesta solidariedade à República Bolivariana da Venezuela e congratulações ao PC de Cuba pela realização do seu 8º Congresso, saudando sua resistência e imensa solidariedade internacionalista.   O internacionalismo é parte constitutiva da identidade dos comunistas. A luta pela paz mundial e pela solidariedade aos povos em luta ao redor do mundo é uma exigência de nosso tempo. Neste sentido, o PCdoB conclama as forças progressistas a reforçarem a atividade do Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos e Luta pela Paz (Cebrapaz) como um instrumento da luta internacionalista de massas. Proclama seu firme apoio ao povo palestino por seu direito a um Estado livre e soberano. Reafirma seu compromisso com o Encontro Internacional dos Partidos Comunistas e Operários (EIPCO), fórum importante para o intercâmbio de análises e desafios das lutas de classes. Igualmente, reafirma o compromisso com a construção e fortalecimento do Foro São Paulo, importante plataforma para a construção de convergências políticas frente ao imperialismo e ao neoliberalismo na região.   O tempo presente e futuro clama pelo socialismo   Na perspectiva de um mundo em transição, novos horizontes de avanços táticos poderão se abrir para os povos. A luta pela constituição de alternativas é a questão nodal do nosso tempo. Cabe às forças progressistas, revolucionárias e de esquerda saber aproveitar esse contexto para deflagrarem um novo ciclo político de avanços democráticos, pela soberania nacional e progresso social. O desenvolvimento do socialismo com particularidades chinesas, que impressiona o mundo, junto a outros países socialistas, com seus partidos comunistas no poder de Estado, demonstra que há, sim, alternativas à classe trabalhadora e às nações contra o neoliberalismo e o imperialismo. É nesse ciclo que se situa a nova luta pelo socialismo hoje no mundo.     II – ISOLAR E DERROTAR BOLSONARO – A QUESTÃO PREMENTE PARA SALVAR O PAÍS   O governo Bolsonaro aprofundou uma crise de múltiplas faces no país: política, sanitária, econômica, social, da infraestrutura, ambiental, elétrica e educacional. O caráter autoritário de seu projeto de poder procura levar as instituições ao impasse, buscando corroer o ambiente democrático, dando sinais de que procurará de todos os modos se agarrar ao poder.   O resultado geral desse governo, transcorrido mais da metade do mandato, é um desastre. É grave a regressão do Brasil enquanto país soberano e democrático. O sofrimento do povo é enorme. Os direitos sociais e trabalhistas são crescentemente eliminados. As mulheres são fortemente atingidas por essa maré reacionária, com corte de direitos e aumento da violência, em especial contra as mulheres negras. O Estado nacional, posto a serviço do capital especulativo e do rentismo, sofre processo de desmonte e se torna disfuncional para a democracia e ao papel de alavanca do desenvolvimento soberano e do progresso social. O patrimônio nacional está sendo dilapidado.   A crise sanitária adquiriu a envergadura de catástrofe nacional   Além de o país ter ultrapassado a dolorosa marca de meio milhão de mortes, a Covid-19 prossegue grave no país, com patamar alto de transmissibilidade do vírus, e de mortes, e com a rede hospitalar sobrecarregada. A vacinação segue lenta. A Nação paga alto preço também pela postura de Bolsonaro de sabotar o enfrentamento do distanciamento social para, supostamente, proteger a economia. A resultante é devastadora, levando o Brasil a uma taxa de mortalidade situada entre as maiores dos países do Ocidente.   Como vem comprovando a CPI do Senado, respaldada por amplo apoio popular, essa tragédia é resultado da conduta criminosa e irresponsável do presidente. O governo brasileiro se omitiu de socorrer as pessoas, revelou a mais absoluta negação da ciência, estabeleceu uma guerra cultural através de potente comunicação, levou as pessoas ao encontro do vírus sem as devidas medidas sanitárias, promovendo o falso sentimento de proteção, com propaganda mentirosa da eficácia de medicamentos. O estratégico complexo econômico industrial da saúde, para a produção nacional e integrada de vacinas, foi vitimado com o corte de investimentos em ciência e inovação. A cada depoimento, novos indícios de que, por razões de cálculo político, foi sabotada uma estratégia nacional integrada, com bases científicas e em defesa da vida, para o combate ao SARS-CoV-2, ao custo de milhares de vidas. São muitos os crimes sanitários e contra a vida.   A política econômica de Bolsonaro e Guedes aprofundou as desigualdades   A política ultraliberal e neocolonial, da dupla Bolsonaro-Guedes, aprofunda a desnacionalização da economia e a desindustrialização e agrava a exclusão e as desigualdades sociais. Agrava as desigualdades e de gênero, penalizando enormemente a população negra e as etnias indígenas. As reformas liberais promoveram a elevação da taxa de lucros e da exploração do trabalho. No sistema financeiro, os dois maiores bancos privados elevam os lucros em 74% e 64% em um ano. Cresceu o número de bilionários justamente aqui, onde há a segunda maior concentração de renda entre mais de 180 países. Enquanto isso, são mais de 800 mil empresas quebradas e o desemprego é recorde, com 14,8 milhões de pessoas sem trabalho.   Cai a renda do trabalho e a inflação em alta atinge sobretudo o povo, com a carestia dos alimentos, aluguéis, transportes, energia elétrica, gás e combustíveis. A tragédia social está estampada nas ruas, com milhares de pessoas e famílias ao relento. Mais da metade da nação – 116,8 milhões de pessoas – vive em insegurança alimentar e 19 milhões estão passando fome. A Amazônia e outros biomas estão expostos à devastação criminosa, os povos indígenas sofrem ataques de bandos armados, o governo opera o desmonte da legislação ambiental e dos órgãos de fiscalização e o ministro do Meio Ambiente caiu, acusado de corrupção. O Brasil se isola internacionalmente e adota uma política externa de país pária. As áreas da educação, da cultura, da C&T e as instituições de fomento e Institutos de Pesquisa e Desenvolvimento sofrem com o processo de desarticulação e estrangulamento financeiro. Mesmo assim, demonstrando a qualidade alcançada, desenvolveram rapidamente processos de sequenciamento genético precoce do novo coronavírus, garantindo as condições básicas para obtenção das vacinas nacionais, algumas destas iniciativas sem incluir qualquer importação de tecnologia.   Sob crescente isolamento, Bolsonaro manobra em busca de se manter no poder   Desde o início do ano, o isolamento de Bolsonaro se manifesta no afastamento de parcelas das classes dominantes de sua base de apoio, e também de camadas médias; e igualmente na crise que provocou com a cúpula das Forças Armadas.   Todavia, Bolsonaro reage. O Centrão rende-lhe, no momento, base de apoio no Congresso Nacional, embora volátil e pragmática. Faz sinalizações aos banqueiros, rentistas e grandes grupos econômicos, aumentando a taxa básica de juros, garroteando o Orçamento Federal nas áreas dos direitos sociais e estratégicos do desenvolvimento para assegurar os fabulosos lucros do capital financeiro e realizar privatizações. Em meio a uma crise da produção de energia elétrica, Bolsonaro impõe a privatização da Eletrobrás que, além de ser um crime de lesa-pátria, vai onerar o preço das tarifas; instituiu a chamada independência do Banco Central; e deu início à nefasta reforma administrativa, que debilita o Estado e cortará direitos.   Na esfera econômica, joga com crescimento puxado, sobretudo pela elevação temporária dos preços da exportação de commodities que, devido à forte demanda internacional, tem até aqui participação diminuta da indústria e dos serviços. Desde o anúncio do crescimento de 1,2% do PIB no primeiro trimestre, em grande medida efeito estatístico face à queda de 2020, o governo passou a propagandear a narrativa de um “país das maravilhas” quando, na verdade, o Brasil ficou em 19º lugar, no ranking de 50 países, na retomada do PIB.   Dobra a aposta no discurso negacionista e golpista e com ele convoca às ruas os segmentos mais reacionários de sua base. Construiu uma teia orgânica de apoio nas polícias e robusteceu as milícias, com portarias que liberaram a compra e a circulação de armas. Louva a barbárie, naturaliza e estimula a violência. Conta com a leniência que grassa em segmentos das Forças Armadas, decorrente do vínculo com as ideias e os compromissos do projeto que as levaram a apoiar a eleição de Bolsonaro. Mantém o aparato criminoso de fake news por meio do “gabinete do ódio”.  Sustenta guerras culturais para impor à sociedade verdadeira regressão civilizacional com ideias e práticas reacionárias. É parte do modus operandi a política de intimidação aos oponentes, seja por meio de aparatos do Estado, como a Polícia Federal (PF), Procuradoria Geral da República (PGR), a Advocacia Geral da União (AGU), seja usando entulhos autoritários da época da ditadura militar, como a Lei de Segurança Nacional (LSN), ou ainda, por meio das milícias digitais. Exemplo recente disto têm sido as constantes agressões sofridas por Manuela d’Ávila, que chocaram o país e despertaram amplo movimento de solidariedade #Força Manu e pede #Punição aos criminosos.   Conter e repelir a escalada golpista de bolsonarista   Bolsonaro persiste em sua contínua escalada contra as instituições e normas democráticas e, diante disso, são reais as ameaças de ruptura do regime democrático, que segue sendo seu plano estratégico. Os sinais para isso são crescentes. Nesse sentido, decisões do STF têm sido importantes para repelir as transgressões do presidente. O PCdoB, por iniciativa própria ou em conjunto com outras legendas, tem impetrado ações, várias exitosas, em defesa tanto do Estado Democrático de Direito quanto da vida.   Eleva a pressão sobre as instituições e Poderes da República levando-os a desconfigurações, divisões e impasses com o objetivo de submetê-los ao projeto autoritário de poder. Contesta o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) com discurso em torno de fraude nas urnas, supostamente ocorrida em 2018, propugnando mudança no sistema de votação eletrônica, disposto a tumultuar as eleições de 2022 com acusações de fraude se não vier a ser vitorioso. É crescente, também, a investida de Bolsonaro sobre as Forças Armadas visando a subjugá-las, como ficou patente no episódio que resultou no grave erro de não se punir o ex-ministro da Saúde, general Pazuello, o que insufla a indisciplina e a quebra de hierarquia. Importantes líderes da reserva do Exército fizeram forte libelo contra Bolsonaro.   Em síntese, hoje cresce o isolamento do presidente, mas ele dispõe de bases de apoio e margem de manobra. E ainda mantém força, segundo as pesquisas, para as eleições de 2022. Seria grave erro subestimar sua estratégia autoritária de se manter no poder a qualquer custo. A reeleição de Bolsonaro representaria ameaça ainda mais destruidora contra a democracia e a nação. Impõe-se a união de amplas forças, de todos e todas que defendem a vida e a democracia, para barrar a estratégia autoritária de Bolsonaro e desmascará-lo, isolá-lo e derrotá-lo para abrir caminho à reconstrução nacional.   Os polos dinâmicos das oposições   Vai se robustecendo a luta das oposições. Elas se apresentam com três importantes articulações. Uma liderada pelo ex-presidente Lula que, tendo recuperado os direitos políticos por decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), cresce nas pesquisas e articula sua possível candidatura com amplo leque de apoio. O retorno de Lula tem forte impacto positivo, muito apoio popular e fortalece a luta oposicionista.   Ciro Gomes, do PDT, prossegue como liderança destacada do campo progressista no tabuleiro da sucessão presidencial. É positiva também a movimentação do denominado Centro na construção de convergência para candidatura presidencial desse espectro. Abarca lideranças da direita, centro-direita e centro que se opõem, ou têm contradições, a Bolsonaro, como os governadores tucanos João Doria, Eduardo Leite, o senador Tasso Jereissati e o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta.   Cresce a consciência da necessidade de ampla frente democrática   Ganha influência entre as oposições a tática da frente ampla democrática defendida pelo PCdoB. O campo político democrático e progressista acumula forças e empreende a transição para superar a fase de defensiva tática. A esquerda ganha dinamismo e protagonismo político. Entre os movimentos, têm papel destacado as ações democráticas de instituições de Estado e da sociedade civil; e o Fórum de Governadores continua tendo grande relevância na resistência.   Desse acúmulo, fruto da resistência democrática e popular, vai despontando novo ambiente político, marcado por iniciativas democráticas e pelo crescimento do antibolsonarismo. A esperança do povo desperta. Vai sendo criada a possibilidade real de as oposições vencerem as eleições de 2022, derrotando e expelindo Bolsonaro do governo, único meio de livrar o país do pesadelo em que se encontra.   Mobilização do povo, vertente impulsionadora das lutas   A mobilização do povo e da classe trabalhadora, que sofreu duro refluxo devido aos impactos do distanciamento social face à Covid-19, volta a irromper no cenário político, como vertente impulsionadora e decisiva dos movimentos em defesa da Vida e da Democracia e contra Bolsonaro. A jornada vem em uma crescente, desde o 8 de Março, passando por um 1º de Maio Unitário, de largo espectro democrático, organizado pelo Fórum das Centrais Sindicais, e chegando às grandes mobilizações de 29 de maio e de 19 de junho convocadas por frentes de movimento sociais. Respeitando as normas sanitárias do país, elas marcaram a retomada do povo nas ruas, tendo como palavras de ordem unificadoras a defesa da vida, da democracia, da vacina, da educação, do emprego, do auxílio emergencial, da saúde e Fora, Bolsonaro. A militância do PCdoB inserida nestes movimentos está na linha de frente dessas mobilizações e deverá reforçar ainda mais seu engajamento. Destaca-se o processo que se afunila de unificação da CTB e da CGTB, que fortalecerá o protagonismo do sindicalismo unitário e de luta.   Destacam-se, na retomada da batalha das ruas, as mobilizações da juventude estudantil lideradas pela UNE, pela UBES e pela ANPG, com o apoio da União da Juventude Socialista (UJS) e da Juventude Pátria Livre (JPL), por “Vida, pão, vacina e educação”, respeitando as normas sanitárias. Cumprem, também, papel destacado as frentes de movimentos. A CONAM empreende jornada em prol dos direitos das comunidades, ressaltando a batalha pelo despejo zero e a luta por moradia. Diante do aumento da violência contra a população negra, cresce a luta antirracista da qual a UNEGRO participa com destaque. A pandemia agrava a sobrecarga de trabalho, as discriminações, a violência contra as mulheres. As entidades feministas UBM e CMB batalham pelo aumento da renda e por políticas governamentais que promovam oportunidades de emprego e renda para a autonomia econômica das mulheres, reforçam suas agendas de luta e denúncia e realizam ações de solidariedade às mulheres brasileiras, sobretudo das camadas populares. Com a liderança da Bancada Feminina na Câmara, entidades e partidos políticos, através das Secretarias de Mulheres, unem-se para avançar nas conquistas de mais espaços no Parlamento. Reforçam o movimento pela reserva de cadeiras para mulheres, como forma de enfrentar a sub-representação feminina, que perdura historicamente no Brasil e nos coloca na vergonhosa 142ª posição dentre 199 países. As mulheres – que já têm um forte protagonismo na sociedade brasileira, chefiam 43% das famílias, são mais de 40% da força de trabalho ativa, mais da metade da população e do eleitorado – precisam ocupar efetivamente os espaços de poder. A homofobia recrudesce e exige reforço das lutas em defesa da população LGBTQi+, contra a violência e discriminações, pelos direitos, na qual está inserida a União Nacional LGBT.   Frente ampla: caminho à vitória das oposições   O PCdoB sublinha uma vez mais a convicção de que é a tática de frente ampla democrática, respaldada pela mobilização política do povo, a orientação e a conduta política eficazes para se enfrentar, desmascarar, derrotar Bolsonaro, bem como conter e repelir o persistente estratagema golpista para liquidar o regime democrático. As bandeiras capazes de unir e pôr em movimento grandes forças políticas, sociais, econômicas, culturais e institucionais são: enfrentamento à Covid-19; defesa da vida, com vacina para todos e todas, distanciamento social, respeito às demais normas sanitárias; fortalecimento do SUS e da pesquisa científica ligada ao combate ao SARS-CoV-2; auxílio emergencial de R$ 600 e combate à fome; luta pela proteção e geração de empregos; socorro a micro, pequenas e médias empresas; e defesa da democracia, rechaço ao golpismo de Bolsonaro.   As forças democráticas e progressistas, os movimentos e entidades do povo e dos/as trabalhadores/as precisam continuar apoiando e pressionando a CPI para que vá até as últimas consequências nas investigações e responsabilização de Bolsonaro e seus auxiliares. As mobilizações populares fortalecem seu trabalho e, juntas, ampliam e avolumam a pressão pelo impeachment do presidente. Com os novos fatos já apontados na CPI, um novo pedido de amplas forças políticas partidárias foi preparado, com participação do PCdoB.   Brasil está diante de grande disjuntiva na disputa de 2022   Todas as forças políticas e sociais oposicionistas democráticas precisam elevar a unidade de ação a patamar superior. O confronto dos movimentos das forças democráticas contra o presidente genocida e neofascista resulta numa dinâmica político-institucional instável e de um futuro de razoável imprevisibilidade. Repõe-se a noção de encruzilhada histórica na vida nacional.   Ao mesmo tempo em que valoriza todas as iniciativas e os esforços para barrar o golpismo, derrotar Bolsonaro nas eleições e retomar o caminho do desenvolvimento nacional e da democracia, em amplo diálogo com todas as candidaturas democráticas que se oponham ao bolsonarismo, o PCdoB julga necessário construir a unidade de forças progressistas em torno dos caminhos das saídas para a crise nacional. Realizará esse esforço com todas elas, considerando importante que se apresente expectativa de vitória em 2022 para dar outro rumo à nação e esperanças ao povo.   O PCdoB incorporará, ao Projeto de Resolução do 15º Congresso, Diretrizes para uma Plataforma Emergencial de Reconstrução Nacional, como base para tal unidade face à crise do país, por meio de convergências progressivas. Um novo governo, sustentado por amplas forças, terá o desafio da Reconstrução Nacional, por meio do resgate do Estado Nacional democrático, da recuperação da economia nacional, da valorização do trabalho, empregos e renda, de reformas sociais para o bem-estar do povo, da defesa do meio ambiente em função da soberania e desenvolvimento do país, e da retomada da política externa altiva e independente para reforçar as alianças estratégicas do Brasil no mundo. Essas são condições iniciais para se implementar um novo projeto nacional de desenvolvimento, soberano, democrático e a serviço dos interesses populares.   III – O dilema das restrições democráticas para o papel institucional do PCdoB   A Constituição Federal de 1988 consagrou o pluralismo partidário no Brasil. Tal conquista democrática ainda não logrou ampliar devidamente a representação política institucional dos trabalhadores, mulheres, negros e outros setores oprimidos, embora socialmente majoritários. Jamais cessaram as pressões dos setores conservadores para restringir e elitizar o sistema eleitoral e partidário. Isso se somou, nos anos mais recentes, à criminosa ofensiva conservadora da extrema-direita no poder, recrudescendo o anticomunismo, que atinge a toda a esquerda, em especial o PCdoB.   A legislação eleitoral restritiva e casuística confronta forças políticas estruturadas com base em programa e ideário bem definidos, cuja presença dignifica o sistema político-partidário no Brasil. A Cláusula de Desempenho, mais a proibição de alianças eleitorais em eleições proporcionais – esta, especificamente, atentatória à autonomia partidária para estabelecer alianças –, são as mais recentes iniciativas que se voltam contra o pluripartidarismo democrático. Visam a eliminar a representação institucional dessas legendas do cenário político do país.   É preciso aperfeiçoar o sistema político-partidário com reformas política e eleitoral de caráter democrático, levando em conta as características próprias do Brasil. Neste momento, como passo primário, impõe-se flexibilizar a legislação e permitir a união de legendas como frente eleitoral, com os direitos e deveres dos partidos políticos e caráter programático definido e duradouro, assegurando a manutenção do registro das legendas integrantes com sua autonomia organizativa e identidade.   Na formação histórica do Brasil, as amplas frentes políticas e sociais unitárias foram determinantes para a nação alcançar novos patamares civilizatórios. A atuação em frentes, sejam elas políticas, sejam elas eleitorais ou na luta social, é parte constitutiva da identidade dos comunistas, de sua estratégia e tática.   Superar grandes obstáculos na luta democrática tem sido marca indelével da luta do PCdoB, sob condições de anticomunismo agressivo e obscurantista e em meio a prolongados períodos de ditadura. Entretanto, o Partido sempre sobrepujou tais situações e mantém atividade ininterrupta como o mais antigo partido do país. A centenária legenda tem sido, assim, um marco vivo na história política e institucional no país, com contribuições importantes na construção dos avanços democráticos, nas conquistas civilizacionais com a defesa dos interesses do Brasil e do povo.   O PCdoB lutará decididamente para superar as atuais restrições democráticas e assegurar sua representação institucional. Para tanto, quer contar com o apoio e a cooperação de todos os democratas e progressistas do país. O PCdoB é indispensável à democracia no Brasil, e a vitória de um projeto democrático para o país em 2022 precisa dos comunistas com plena representação institucional no espectro partidário brasileiro.   A construção de saídas pautará a dinâmica do processo congressual do 15° Congresso, com espírito de soluções coletivas, coesão e urgência. A direção nacional formulou, em meio a debates feitos com abertura, unidade, espírito combativo e respeito às diferenças de opiniões, um consenso majoritário em torno de três premissas constituintes:   a) A ação prioritária em torno da aprovação do Projeto de Lei da Criação das Federações Partidárias, a partir de um intenso e amplo movimento político no Congresso Nacional.   b) A compreensão de que a superação dos desafios para o papel institucional do PCdoB passa pelas saídas à crise brasileira, unindo amplas forças para derrotar a extrema-direita e para a construção de caminhos que favoreçam seus objetivos eleitorais, em torno de uma Plataforma Emergencial de Reconstrução Nacional soberana e democrática.   c) Construir o projeto eleitoral de 2022 desde já, com a formação de chapas próprias a deputados, perseguindo a filiação de novas lideranças sociais e políticas, para o desafio da superação da cláusula de desempenho.   A combativa bancada do PCdoB na Câmara dos Deputados, liderada pelo deputado Renildo Calheiros, em democrático e intenso diálogo com praticamente todas as legendas presentes no Congresso Nacional, busca construir uma maioria que aprove as Federações partidárias. Esgotado esse esforço, o PCdoB procurará alternativas políticas e legislativas de frentes políticas nas quais possa assegurar sua atuação institucional no país, tendo como pressuposto a preservação da continuidade histórica, identidade e autonomia do Partido Comunista do Brasil.         IV – Revigorar o Partido   O contexto concreto de atuação do PCdoB é de grande singularidade. O 15º Congresso tem, nesse sentido, dimensão histórica para enfrentar a escalada antidemocrática e anticomunista e assegurar sua representação política-institucional. Tal singularidade exige, nesta hora, linhas de força bem focadas, no âmbito das tarefas gerais da construção partidária, num plano imediato bem definido, centradas nos temas da comunicação, atividades de massas e estruturação partidária.   É imperativo superar limitações e insuficiências que se apresentaram nos últimos anos e levaram ao enfraquecimento de sua influência na luta social e setores médios, com reflexos importantes na sua força organizativa e em seu desempenho eleitoral. Fazer do PCdoB a força consciente, combativa, coesa e militante, para enfrentar o neofascismo e constituir uma ampla frente popular, democrática e patriótica para a transformação do Brasil, demanda um revigoramento geral da vida partidária. São necessárias a atualização e a renovação de suas linhas de ação e construção política, ideológica e orgânica do Partido, adequadas às exigências atuais da luta de classes pela qual o país atravessa.   O Partido forte junto ao povo, orgânico, influente e de grande capacidade de comunicação, é condição insubstituível para constituir maior força eleitoral e assegurar a ação e representação institucional do PCdoB. O Partido precisa ser do tamanho de suas ideias avançadas para a nação e generosas com o povo, como partido de ação política de massas, de luta de ideias, políticas, institucionais e eleitorais, com forte apoio no seio do povo, maior influência na sociedade e mais força nas urnas.   Capacitar o Partido para enfrentar o neofascismo bolsonarista   O enfrentamento da ofensiva ultraconservadora no país requer ação na disputa de ideias e na força de comunicação, na contraofensiva por intermédio das redes digitais contemporâneas, na atualização da imagem e identidade do Partido nos termos das características brasileiras, na luta social em suas múltiplas e renovadas dimensões, no aperfeiçoamento de suas redes organizativas e no protagonismo das liderança, voltando todos esses fatores também para alcançar maior força nas disputas eleitorais.   Nas condições de defensiva estratégica e tática em que vivemos, o fator maior da edificação do Partido é a construção política. Construir a nítida compreensão de sua orientação tática, capacidade de disputá-la em todos os terrenos de ação, para assegurar a unidade, confiança e perspectivas dos quadros partidários. Isso se ampara na construção ideológica, tendo o Programa do PCdoB à frente, mais o permanente esforço de unidade das fileiras militantes, disciplina e espírito coletivo de partido, para um período de resistência.   Política de quadros em consonância com um período de resistência   A política de quadros é imprescindível nessa direção. Ela exige singular atenção ao fortalecimento dos compromissos ideológicos e em torno do Programa Socialista do PCdoB e demanda, mais que nunca, quadros voltados à formação de uma base organizativa sólida e capilarizada, ligada estreitamente às lutas populares, a partir de direções municipais que direcionem a ação para bases.   Ela deve ser dinâmica e sistêmica, para situar os quadros nos desafios em seus melhores papéis, alocar segundo as prioridades dos desafios, fortalecer sua têmpera, servir à construção das bases militantes e à elevação da consciência e organização do povo. Os comitês partidários e órgãos executivos precisam ser fortalecidos, reposicionando quadros mais maduros e comprometidos com quadros novos, em maior proporção de mulheres e jovens.   Neste momento, as lideranças públicas precisam encabeçar o esforço de atrair uma ampla gama de novas lideranças e construir chapa de candidatas e candidatos influentes para alcançar votações expressivas e mandatos eletivos. Uma grande questão a ser encarada com uma responsabilidade nacional, nesse sentido, é um conjunto de iniciativas voltadas ao fortalecimento desse esforço em São Paulo, Rio de Janeiro e Minas, pela centralidade que assumem nas lutas políticas, sociais e eleitorais.   Linha de ação de massas renovada   No terreno da intervenção concreta, a par da fundamental organização do Partido nos locais de trabalho e estudo, adquire grande importância a atuação em territórios, junto às comunidades e aos bairros populares, na cidade e no campo, onde se manifestam as dificuldades da sobrevivência e da vida das pessoas.   O enfrentamento da carestia, das condições precárias de habitação, da violência, da falta de alternativas culturais e de lazer, e da insuficiência dos serviços públicos de saúde e educação exige variadas formas de organização. Desde as mais tradicionais – sindicatos, associações, movimentos, conselhos participativos e de controle social – e se estendendo aos coletivos de mulheres, aos movimentos antirracistas, aos grupos culturais, de defesa do meio ambiente, aos cursinhos populares, aos núcleos de economia solidária e popular, de geração de renda e trabalho, às ações de solidariedade no combate à fome e em apoio às pessoas com deficiências ou desprotegidas socialmente. Há, também, sobretudo nos bairros populares, ações de solidariedade ao povo realizadas por religiosos, templos e igrejas. Conforme a tradição do Partido de defesa e de respeito à religiosidade do povo, deve-se dialogar também com estes segmentos sobre tais ações.   O Partido precisa se ligar mais profundamente aos trabalhadores em geral, da cidade e do campo, as classes fundamentais que representamos. É preciso dominar as mudanças ocorridas no mundo do trabalho e o novo perfil da classe trabalhadora. Assim, deve-se dar atenção especial às novas categorias de trabalhadores jovens, explorados e sem direitos; às mulheres que atuam e lideram em todas as frentes de luta; aos negros e negras que enfrentam a opressão do racismo e a violência em todas as suas formas; à juventude rebelde que vai às ruas em defesa da educação e da democracia, de oportunidades, contra a opressão racial, de gênero e de orientação sexual.   No contexto de uma guerra cultural, empreendida pela extrema-direita, fazendo uso das redes sociais e de outros meios, é premente reforçar o trabalho do Partido na esfera da luta de ideias. O Partido deverá constituir um plano de luta ideológica e cultural para enfrentar o bolsonarismo e a extrema-direita, formular saídas para a crise, combater os estigmas e preconceitos disseminados contra os comunistas e toda a esquerda. E desenvolver uma ação comunicacional contínua que ressalte o PCdoB como indispensável à democracia e ao Brasil.   Por um salto qualitativo na comunicação digital   Mesmo com a disparidade e assimetria dos meios dos campos em disputa, a internet é o espaço central da comunicação do Partido, e as redes são arenas indispensáveis à luta política, social, cultural e de ideias, como também para a própria organização e estruturação partidárias.   É imperativo empreender um salto qualitativo na capacidade de se comunicar com a sociedade, incrementar a cultura e a prática digital entre os militantes, organizações, mandatos e movimentos. Romper com a compartimentação e efetivar uma sinergia entre portais, influenciadores digitais, lideranças e contas institucionais do Partido, avançando na constituição de um sistema nacional de comunicação, onde um núcleo nacional interage com sistemas estaduais.   A comunicação deve romper com atrasos e deficiências para ter largo alcance, para além dos nossos grupos de relacionamento, ser ágil, leve e contundente, sob o primado da verdade, com a produção de conteúdos próprios, com estética e linguagem próprias às redes digitais. Disputar a tática e posições do Partido, sem sectarismos, repelindo ataques, defendendo suas ideias, para reforçar a unidade no âmbito das alianças. Responder aos anseios e problemas mais sentidos pelo povo, ter foco em temas do Programa partidário a partir dos fatos do dia e da hora. Rechaçar e enfrentar de modo sistêmico o anticomunismo, combatendo os estigmas.   É necessário trabalhar de modo renovado a representação da legenda do Partido na sociedade. Vincar a identidade, lemas e imagem a valores da brasilidade e contemporaneidade. Requer-se disseminar as ideias do Programa, apropriar-se da história brasileira, valorizar a cultura nacional e impregnar-se das singularidades características do povo brasileiro. Revigorar sua essência de partido revolucionário e patriótico, marcado pela rebeldia e a presença intrépida no cotidiano das lutas do povo. Vincular mais e mais a identidade do Partido ao desempenho positivo de seus parlamentares, gestores, lideranças dos movimentos, à vigorosa oposição a Bolsonaro; ao zelo com o patrimônio público. Neste esforço, o Partido deve se apoiar na expertise de vários/as publicitários/as e influenciadores/as digitais de suas fileiras.   Tal transformação na esfera da comunicação requer do Comitê Central, dos Comitês Estaduais e Municipais, decisão política, aporte de meios e recursos, e busca de engajamento de apoio e trabalho voluntário. Ela se orienta, por excelência, ao projeto eleitoral de 2022, promovendo as lideranças que farão parte das chapas, ajudando-as a criar, fortalecer e expandir suas redes.   Estrutura partidária junto ao povo, rede orgânica e territorializada   Todas as frentes de atuação da militância partidária devem convergir para fortalecer o vínculo com a luta do povo, e constituir uma base eleitoral fidelizada à legenda dos comunistas. Para isso, o Partido deve estar junto ao povo, ter base militante extensa, viver e pulsar a dinâmica dos/as trabalhadores/as, da juventude, das mulheres, dos negros e negras, daqueles e daquelas que lutam contra a injustiça e a desigualdade, por oportunidades e um futuro melhor. Demanda uma extensa estruturação nas organizações de base, ampla influência de massas junto aos setores populares e progressistas, e protagonismo eleitoral, com mais lideranças na disputa e mais votos. Construir bases de massa sólidas é tarefa de todos e todas, implica ligar-se permanentemente às lutas em curso, comprometer-se com seu desenvolvimento e resultados. Cada organismo e cada militante são chamados a contribuir na revitalização do Partido nessa dimensão.   O centro do trabalho de direção deve estar nas organizações de bases partidárias, capilarizadas nos territórios populares e setores estratégicos da luta, no sentido de transformá-las em polos de crescimento, de novos militantes e filiados, de espaços de organização das lutas e formação de lideranças. Para isso é fundamental que tenham apoio, presença constante de quadros mais experientes dos órgãos de direção; utilizem meios digitais como fatores organizacionais em tempo real; impulsionem e aglutinem as iniciativas das diversas frentes.   Nesse mesmo sentido, inclui-se a atuação nas entidades sociais. Destaca-se a unificação da CTB e CGTB, fortalecendo a luta sindical e impulsionando a unidade de todas as centrais na luta pelos direitos dos/as trabalhadores/as, pela Vida e pela Democracia, contra Bolsonaro.   Destacada importância tem a 3ª Conferência Nacional do PCdoB sobre a Emancipação das Mulheres, realizada vitoriosamente em março último. Impulsionado e orientado pelas conclusões dessa Conferência, o coletivo militante, no atual contexto de crise com duras consequências para as mulheres, reforçará, sob a ótica do feminismo popular, a jornada pela emancipação das mulheres, igualdade de direitos, condenação da violência e protagonismo nas eleições de 2022.   O Partido realizará a 1ª Conferência Nacional de Combate ao Racismo, antecedida por um Seminário Nacional preparatório, ainda este ano, para a formulação política e teórica, definição de linhas do trabalho popular e partidário e envolvimento de grande contingente de militantes na luta contra a discriminação racial.   Também tem sentido estratégica a atuação junto à juventude. Frente à atual crise civilizatória e de falta de perspectivas e oportunidades, é fundamental despertar em amplos setores das juventudes a consciência de que é preciso combater e superar o sistema capitalista, alterando seu modo de vida e sua relação com o meio ambiente, a cultura, a ciência e o trabalho, na perspectiva do socialismo.   O Partido deve ampliar, também, a presença de jovens em postos de comando, em todas as frentes de atuação social e das organizações partidárias, intensificando a interação com a União da Juventude Socialista e a Juventude Pátria Livre, dando amplo espaço para sua atuação combativa e habilidade com a comunicação digital e a linguagem das redes.   ***   Os desafios para superar a crise brasileira e assegurar a presença institucional do PCdoB na vida política do país são de grande envergadura e estão interligados. Desafiam, neste 15º Congresso, as presentes gerações de quadros e militantes para celebrarem o centenário da legenda com a perspectiva de sua superação.   O Centenário – sua agenda de comemorações, atividades, publicações – constitui-se um trunfo relevante para emular o coletivo militante e sensibilizar os setores progressistas da sociedade quanto ao legado do PCdoB à Nação, à classe trabalhadora e sua indispensabilidade à democracia e ao país.   O Comitê Central convoca a todos e todas, nas fileiras partidárias, a aprofundarem a elaboração e aplicação dos rumos aqui apresentados, os quais também receberão subsídios a ser incorporados ao debate. Estejamos, todas e todos, confiantes de que, com lucidez, espírito militante e coesão de nosso coletivo, serão superados os desafios atuais.   Brasília, 24 de junho de 2021 Comitê Central do Partido Comunista do Brasil-PCdoB  
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