Só quem tem internet consegue usar auxílio emergencial

Empobrecimento na pandemia envolve pessoas que não têm celular, pacote de dados ou sequer conhecimento digital para pagar contas pelo aplicativo da Caixa Econômica Federal.

Se a pessoa não tem o que comer, como exigir que ela tenha smartphone, pacote de internet e conhecimento digital para usar o recurso financeiro?

A Caixa Econômica Federal depositou nesta sexta-feira (9) o auxílio emergencial para os beneficiários nascidos em fevereiro, mas, mesmo com dinheiro na conta, muitas famílias ainda precisam esperar para comprar o básico. São cerca de 88 milhões de brasileiros.

O auxílio emergencial está disponível, mas só para quem tem o aplicativo da Caixa Econômica Federal. Dados da Fundação Getúlio Vargas mostram que, entre os mais pobres, 40% não acessam a internet. Essas pessoas vão ter que esperar para sacar o dinheiro vivo na boca do caixa. Milhões estão sem renda e precisam desses recursos para comprar comida.

Quase a maioria não tem como usar porque sequer tem telefone (ou emprego). É o que acontece com milhões de brasileiros que nasceram em janeiro mas sequer entende o que seja um aplicativo de internet.

O dinheiro só estará disponível para saque a partir do dia 4 de maio. A Caixa diz que hoje o auxílio pode ser usado pelo aplicativo Caixa Tem, para pagar boletos, compras na internet e em maquininhas; que é possível realizar compras em supermercados, padarias, farmácias e outros estabelecimentos com o cartão de débito virtual e QR Code.

Segundo especialistas em assistência social, o governo precisaria, imediatamente, saber exatamente quem não está acessando o benefício e por quê para garantir a necessidade emergencial das pessoas.

Segundo reportagem do Jornal Nacional, da Rede Globo, a exigência fez surgir nas ruas um mercado paralelo para quem não tem telefone ou internet, mas tem urgência de dinheiro na mão: um atravessador que cobra R$ 30 para entregar “cento e poucos” na mão ou espera até maio.

A Caixa afirmou que custeia a navegação no aplicativo e que o beneficiário consegue usar o Caixa Tem mesmo que não tenha pacote de dados suficiente. Declarou ainda que o cronograma de operações de saque, de transferências e de PIX é para evitar aglomerações.

(Por Cezar Xavier)