Ouvidor pede que policiais que agiram em Paraisópolis sejam afastados

Relatives attend the burial of Denys Henrique Quirino da Silva, 16, in Sao Paulo, Brazil, on December 2, 2019, after nine people died following a police raid. - At least nine people were trampled to death and two others were injured early Sunday in the chaotic aftermath of a police raid in a poor Sao Paulo neighborhood, authorities there said. (Photo by Miguel SCHINCARIOL / AFP)

Henrique Quirino da Silva, 16, foi sepultado nesta segunda-feira.

Foto: Miguel SCHINCARIOL/AFP

O ouvidor das polícias de São Paulo, Benedito Mariano, pediu o afastamento de seis PMs que realizaram ação em um baile funk na favela de Paraisópolis que resultou na morte de 9 pessoas. As vítimas foram pisoteadas após uma emboscada de policiais em uma viela na comunidade.
O pedido foi feito em ofício encaminhado à Corregedoria da Polícia Militar, que também apura as circunstâncias do caso. “A ocorrência foi desastrosa, pois acabou com tamanho número de mortes. A improvisação e a precipitação podem ter contribuído, direta ou indiretamente, para as mortes dessa tragédia”, disse o ouvidor Benedito Mariano nesta segunda-feira (2).
O ouvidor reforçou que testemunhas do caso podem procurar o órgão para relatar eventuais abusos por parte dos agentes. “Os depoimentos serão encaminhados para o DHPP e para a Corregedoria, solicitando que os termos sejam anexados aos procedimentos apuratórios conduzidos pelos dois órgãos, o que pode ser uma contribuição importante para as investigações”, disse Mariano.
No entanto, moradores e frequentadores de Paraisópolis afirmaram que não ocorreu nenhum tiroteio. E sim que a polícia adentrou a favela com o objetivo de acabar com o baile funk que estava acontecendo.
Os policiais dispararam bombas de efeito moral, motivando correria entre os presentes. Muitos deles se dirigiram para as vielas que cruzam a rua onde ocorria o baile e, neste momento, foram encurraladas por policiais.
Em um vídeo divulgado nas redes sociais, PMs espancam as pessoas que tentam passar pela viela empurrando-as para a rua onde eram realizados os disparos de bombas e balas de borracha. Segundo as testemunhas, foi neste momento que as vítimas foram pisoteadas.
São eles:
• Marcos Paulo Oliveira dos Santos, de 16 anos
• Dennys Guilherme dos Santos Franca, de 16 anos
• Denys Henrique Quirino da Silva, de 16 anos
• Gustavo Cruz Xavier, de 14 anos
• Gabriel Rogério de Moraes, de 20 anos
• Mateus dos Santos Costa, de 23 anos
• Bruno Gabriel dos Santos, de 22 anos
• Eduardo Silva, de 21 anos
• Luara Victoria de Oliveira, de 18 anos
Ariel de Castro Alves, advogado e conselheiro do Conselho Estadual de Direitos Humanos (Condepe), considerou que a ação dos PMs foi criminosa. “Pelas imagens, agiram com a intenção de ferir, torturar e matar. Os vídeos mostram torturas, abusos de autoridade, agressões e que os jovens foram encurralados pelos policiais. Demonstram que os PMs são os principais responsáveis pela tragédia”, afirmou o represente do Condepe, que destaca que os policiais não comprovaram a perseguição a criminosos e a chegada deles ao local da tragédia.
“Ainda que tivesse perseguição, esse tipo de ação violenta para dispersar um grande número de adolescentes e jovens em vielas e becos só podia resultar em tragédia. Os PMs envolvidos deveriam estar afastados e presos administrativamente”, destacou.
Doria defende ação dos PMs que resultou na tragédia
Após todas as imagens de vídeo que comprovam a truculência e o despreparo da Polícia Militar na operação, o governador do Estado de São Paulo, João Doria, considerou durante entrevista coletiva que as mortes não foram provocadas pela PM e que não houve invasão ao baile funk.
Dória corroborou a versão apresentada pelos policiais envolvidos no caso: eles teriam reagido a um ataque de dois criminosos que estavam em uma moto atirando.
Questionado sobre a ação dos agentes e as denúncias de agressões policiais, Doria afirmou que “os procedimentos e o comportamento da PM não muda”. “A ação da polícia de São Paulo é uma ação bem planejada, preparada, orientada. É a polícia mais bem treinada do país. E segue o protocolo rigorosamente”, disse
“A letalidade não foi provocada pela ação da Polícia Militar, e sim por bandidos que invadiram a área onde estava ocorrendo o baile funk”, finalizou Doria.