Aumento do salário abaixo da inflação aprofunda desigualdade na pandem

Adilson Araújo, presidente da CTB

Sindicalista comenta que, mesmo com aumento muito superior ao proposto pelo governo Bolsonaro, salário mínimo previsto no Orçamento em R$ 1.210, ainda é inferior à inflação do período.

O presidente da Central de Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), Adilson Araújo, lamentou que o salário mínimo previsto para 2022 seja reajustado abaixo da inflação do período. Em entrevista, ele critica o governo por teimar em romper com a política de aumento real do salário mínimo ocorrida durante os governos de Lula e Dilma, aprofundando desigualdades num momento recessivo após dois anos de pandemia.

O relator do Orçamento de 2022, deputado federal Hugo Leal (PSD-RJ), elevou para R$ 1.210 o valor previsto para o salário mínimo no próximo ano. O valor aparece em relatório apresentado nesta segunda-feira (20) pelo deputado à Comissão Mista de Planos, Orçamentos Públicos e Fiscalização da Câmara.

O salário mínimo está atualmente em R$ 1.100. O valor é R$ 41,44 superior aos R$ 1.169 estimados pelo governo na divulgação da proposta de Orçamento para 2022, em agosto deste ano. O valor previsto no relatório de Leal leva em conta um aumento em 2021 de 10,04% do INPC, indicador de valor que é usado como referência para o valor mínimo.

Adilson ataca a política macroeconômica de Paulo Guedes, que segue apostando na desregulamentação do trabalho. “É uma política de aprofundar desigualdades com redução da massa salarial e os trabalhadores perdendo poder de compra do salário nos últimos anos”.

Para o sindicalista, essa é uma clara demonstração de retrocesso, “porque o governo teima em desconsiderar uma política de valorização do salário mínimo”. Ele lembra que o crescimento do salário mínimo naquele período alcançou 70%, “o maior em cinco décadas”. Ele explica que a política acordada entre as centrais sindicais e o governo Lula, interrompida após o golpe, vinha numa perspectiva de aumento real, que contribuía não somente para o consumo, mas para a melhoria de qualidade de vida do trabalhador assalariado.

De 30 milhões de aposentados, 20 recebem salário mínimo, menciona Adilson, salientando que esse é o dinheiro que volta mais rápido para o cofre do governo, “porque bate na boca do caixa e já vai para a quitanda, o supermercado, o botijão de gás, convertendo-se em imposto”.

“Encerrar essa política é deixar de levar em consideração que o salário atual já está muito distante daquele que o Dieese calcula como necessário para sustentar uma família. Um salário cinco vezes maior que esse. Além disso, o salário brasileiro, nivelado pelo dólar, é o menor da América Latina”, compara Adilson.

Esta falta de sensibilidade do governo vem num momento de quase dois anos de pandemia, em que se aprofundou a informalidade do trabalho, com desemprego e insegurança alimentar. “Agora fica ainda mais evidente que o governo se volta apenas para patrocinar os interesses do mercado rentista e do grande capital”, disse.

Na opinião do sindicalista, é preciso recorrer ao Congresso para melhorar esse reajuste. Ele observa que isso foi feito durante toda a pandemia, com a necessidade de um orçamento de guerra, um programa de proteção ao emprego e assistência à pequena, micro e médio negócio. “Precisamos debater não apenas a recomposição do poder de compra do salário, como a necessidade da correção da tabela do imposto de renda que cria uma distorção absurda. O governo amortiza para as grandes fortunas e o trabalhador de baixa renda acaba penalizado”, acrescenta ele.

O valor exato do salário mínimo no próximo ano somente será conhecido no início de janeiro, quando o IBGE divulgar o percentual consolidado do INPC para o ano de 2021.

O relatório de Leal passa pela comissão da Câmara e, depois disso, pelo plenário.

(por Cezar Xavier)