15º Congresso: PCdoB-Porto Alegre elege primeira presidenta negra

Adalberto Frasson, Daiana Santos, Bruna Rodrigues, Manuela d'Ávila e Abigail Pereira. Foto: Luiza Frasson

Com uma rica e ampla participação militante, o PCdoB de Porto Alegre realizou, neste sábado (25), sua conferência municipal como parte do 15º Congresso. Refletindo a representatividade e a renovação do partido, as vereadoras Bruna Rodrigues e Daiana Santos — duas jovens mulheres negras da periferia — foram consagradas presidenta e vice. Bruna é a primeira mulher negra a presidir o PCdoB em Porto Alegre e única presidenta com este perfil na atualidade entre os partidos da capital gaúcha.

Outro ponto importante que marca a nova direção eleita é o peso da participação feminina. O pleno foi ampliado de 69 para 95 membros, dos quais 47 mulheres e 48 homens, proporcionalidade que, de acordo com a presidência cessante, é inédita entre as legendas da cidade.

Na capital gaúcha, o PCdoB também inovou com um evento híbrido que, além de possibilitar o acompanhamento por videoconferência, criou outros dez pontos para que a militância pudesse se reunir, em pequenos grupos, no centro e em bairros da periferia, para acompanhar os debates. Ao todo, 250 delegados participaram do evento. (Veja galeria de fotos no final da matéria)

Pela direção nacional, a conferência contou com a participação de Nádia Campeão, secretária de Relações Institucionais e Políticas Públicas do PCdoB, que apresentou as linhas gerais das teses do partido. Também estiveram presentes no ponto central da conferência — na sede do Sindicato dos Municipários de Porto Alegre (Simpa) — a ex-deputada Manuela d’Ávila, as vereadoras Bruna Rodrigues e Daiana Santos, além de diversas lideranças políticas e dos movimentos sociais.

Trajetória de lutas

Foto: Luiza Frasson

Logo após a eleição da nova direção, a nova presidenta, Bruna Rodrigues, falou à conferência, destacando: “Aprendi a me colocar na política porque ouvi, no primeiro contato, que podíamos fazer uma política diferente. O PCdoB desconstrói a política tradicional e neste contexto, alça à presidência deste espaço político tão importante — na capital de um estado com tanto preconceito, machismo e racismo — duas mulheres que são a cara da desigualdade. Mas também é a prova de que a luta vale a pena, constrói um futuro diferente”.

Ela lembrou o primeiro contato que teve com o PCdoB, através de Manuela d’Ávila, há 16 anos, na Vila Cruzeiro, bairro da periferia marcado pela pobreza e a violência onde vive até hoje e se tornou importante liderança. “Eu era só uma menina que tinha largado a escola e estava lá sentada no cordão da calçada pensando em qual seria perspectiva para a minha filha, que tinha seis meses. Hoje, ela tem 16 anos e sonha com o lugar que quer ocupar. Ainda tem muitas meninas sentadas na calçada de suas comunidades que a gente pode pegar na mão e trazer para para o PCdoB”.

Foto: Luiza Frasson

Companheira de bancada e agora também na condução do comitê municipal, a vereadora Daiana Santos declarou: “Este é um grande desafio, mas vamos encarar com a responsabilidade necessária para isso”. Ela acrescentou que “temos uma tarefa gigantesca de fazer a transformação, um a um, para superar essa violência na vida e na mesa do trabalhador e da trabalhadora e reduzir os impactos do que será esse pós-pandemia, que ainda não conseguimos nem mensurar”.

Ferramenta de luta do povo trabalhador

Foto: Luiza Frasson

Ao saudar a conferência, a ex-deputada Manuela d’Ávila homenageou comunistas históricos, nas figuras dos ex-deputados estaduais Jussara Cony e Raul Carrion, e salientou: “Somos uma ferramenta de luta do povo trabalhador”. Ela também homenageou o presidente que esteve à frente do partido em Porto Alegre até hoje, Adalberto Frasson, classificando-o como “um construtor de unidades”.

Manuela destacou que a nova direção “conduzirá o nosso partido no seu centenário, num momento de muita dificuldade da nossa existência enquanto partido e atravessado por desafios imensos. Não subestimemos a dimensão da derrota de 2018. Não perdemos apenas uma eleição, mas muito mais do que isso”.

Ela colocou que aquela foi “uma derrota que é maior do que a existência de Bolsonaro. Porto Alegre, por exemplo, tem um bolsonarismo que prescinde de Bolsonaro, que não conta com ele e ao mesmo tempo é tão radical quanto ele. Na realidade, disse, “a extrema-direita se apresenta, agora, com um programa que sempre foi o seu, de privatização, destruição do Estado, retirada de direitos, mas se apresenta também sem vergonha de admitir que não é democrática. Porque esse papo de que capitalismo é democrático é tão fake news quanto o amor deles pela pátria. Nunca foi. Está aí a ditadura para provar. Vestem a roupa da democracia quando está valendo a pena”.

Manuela saudou as novas presidentas do partido e enfatizou: “essas duas jovens mulheres são talhadas para defender o que nós defendemos”. E completou, dirigindo-se a elas: “Vocês representam um sonho de uma pátria justa, soberana e socialista”.

Capacidade militante

Foto: Luiza Frasson

Ao abrir os trabalhos, o presidente municipal Adalberto Frasson colocou que o PCdoB chega à conferência depois de um ano de duras e importantes batalhas em Porto Alegre, no qual “enfrentou o bolsonarismo com garra e capacidade militante”. Ele lembrou que nas eleições de 2020, apesar de Manuela d’Ávila não ter sido eleita prefeita, “construímos vitória significativa: quase metade dos porto-alegrenses aprovaram Manuela e outro tipo de cidade, onde o povo estivesse em primeiro lugar”.

Ele apontou a formação da bancada comunista na Câmara Municipal como importante e histórica conquista, obtida  mesmo no cenário adverso e reacionário vivido em todo o país. “Chegamos nessa conferência, embora num contexto muito difícil, mas com um caminho bem trilhado e nossa militância deve estar orgulhosa. Vamos derrotar Bolsonaro!”.

Derrotar Bolsonaro; reconstruir o país; fortalecer o PCdoB

Nádia Campeão saudou a conferência em nome da direção nacional e fez um resumo das teses do partido. Ao tratar do panorama internacional, salientou que “o capitalismo de nossos dias é de crescente e brutal concentração nas mãos de poucos e exclusão da maioria, com desemprego, precarização, crise de refugiados, pobreza e miséria, um quadro de grave degradação humana e ambiental”.

Esse contexto gerou ampla frustração das camadas populares, mas esse sentimento não foi canalizado para ações revolucionárias, desaguando numa onda antipolítica, anti-sistema e antidemocrática, levando à ascensão a extrema-direita  com as eleições de Donald Trump e Bolsonaro, entre outros.

Sobre o contexto nacional, colocou que o governo Bolsonaro “produz múltiplas e profundas crises, que alcançam dimensões de catástrofes nacionais: as tragédias sanitária, ambiental, educacional, econômica e social”. Apesar disso, acrescentou, Bolsonaro cria outra narrativa que desconhece realidade do país.

Nádia destacou que para enfrentar o atual momento, “precisamos reunir amplas forças em defesa do impeachment e da democracia, manifestações amplas a exemplo das Diretas Já, nos dias 2 de outubro e 15 de novembro, disputar nas redes sociais e organizar a luta popular em defesa da vida, contra a fome, a carestia e o desemprego”.

No que diz respeito ao partido, Nádia lembrou que o desafio imediato é superar cláusula de barreira, com a possibilidade de derrubada do veto às federações. Porém, salientou que é preciso também superar insuficiências internas do partido. Ela destacou a importância de o PCdoB ampliar suas bases junto às comunidades, “dar dimensão de massas à ação dos comunistas”.

A conferência de Porto Alegre contou ainda com as intervenções do presidente estadual do PCdoB, Juliano Roso; do dirigente municipal Márcio Cabral e com as saudações do vereador Pedro Ruas (PSol), líder da oposição na Câmara Municipal; Giovani Culau e Vitória Cabreira, vereadores suplentes; Eliz Regina, dirigente da Unegro; Luelen Gemelli, presidenta da UBM-Porto Alegre; Guiomar Vidor, presidente da CTB-RS e Raul Carrion, presidente da Fundação Maurício Grabois no Rio Grande do Sul.

 

Por Priscila Lobregatte

Com fotos de Luiza Frasson e militância comunista