ONU denuncia trama para jogar Assange em prisão dos EUA

Melzer se disse que “absolutamente convencido” de que Assange “desaparecerá em uma prisão de alta segurança em condições desumanas pelo resto da vida”

O relator da ONU sobre tortura, o jurista Nilz Melzer, acusou as autoridades britânicas e norte-americanas de travarem uma guerra unilateral contra o fundador do WikiLeaks, Julian Assange, “violando o devido processo a cada passo”, enquanto a condição de saúde de Assange na prisão de segurança máxima de Belmarsh – apelidada de ‘Guantánamo Britânica – se deteriora a ponto de 60 médicos do mundo inteiro alertarem em carta que sua vida está em risco.

A denúncia de Melzer foi feita durante um ato em Berlim em defesa de Assange e da verdade, na quarta-feira, com uma exposição intitulada “Algo a Dizer” , do lado de fora do Portão de Brademburgo, em que estátuas de bronze de Assange, Chelsea Manning e Edward Snowden – possivelmente os três denunciantes mais conhecidos do planeta – se erguem das cadeiras, enquanto uma cadeira ficava vazia para ser usada por quem quisesse falar.

Em entrevista à RT concedida durante a manifestação, o relator Nils Melzer denunciou que “todo o sistema” estava “inclinado contra Assange”. “Não é um caso de acusação, é perseguição, e é assim que a perseguição funciona”.

Melzer se disse que “absolutamente convencido” de que Assange “desaparecerá em uma prisão de alta segurança em condições desumanas pelo resto da vida”, depois de submetido a “um julgamento politizado” nos EUA, com “evidências secretas” e testemunhos de “portas fechadas”.

Melzer chamou Assange, Chelsea e Snowden de “nossos dissidentes”, cujos casos são “o teste mais significativo de nosso tempo para a credibilidade do Estado de direito e da democracia ocidental”.

No infame pedido de extradição, o regime Trump ameaçou Assange com 175 anos de cárcere por ‘espionagem’, que é como Washington enxerga quem põe a nu os crimes de guerra dos EUA no Iraque e Afeganistão. Chelsea está de volta à prisão por se recusar a mentir para incriminar Assange. Snowden só não está encarcerado ou pior porque está asilado na Rússia.

Como salientou Melzer, “não se trata realmente de Assange, Snowden ou Manning. Trata-se de nós, trata-se de nossos governos, de sua integridade, do estado de direito e do futuro: de nós mesmos, de nossa dignidade humana e de nossos filhos”.

Ou como Assange diz: “não é ele”, é o direito à verdade de todos que está em jogo – e se será criado o precedente de os EUA poder aplicar sua censura ao planeta inteiro quando comete massacres e pilhagens, e extraditar, para julgamento em solo norte-americano, o denunciante, aliás, espião.

PROTOCOLOS DE ISTAMBUL

Melzer conheceu Assange na prisão há seis meses e descreveu sua situação como “crítica”. Desde então, o Relator da ONU sobre Tortura apontou que as condições a que o jornalista é submetido no cárcere estavam “ficando mais opressivas e há vigilância mais intensa e isolamento mais rigoroso”.

Na visita, dois especialistas médicos aplicaram ao jornalista os chamados Protocolos de Istambul e comprovaram que foi submetido a tortura prolongada, em razão dos sete anos de clausura, com perseguição aberta e vigilância abusiva 24 por 7 dentro da embaixada após a posse do presidente Lenin Moreno, em paralelo com a monocórdia campanha de assassinato de reputação movida contra ele na mídia no mundo inteiro.

Assange é mantido em confinamento solitário por 23 horas por dia, teve acesso negado à biblioteca e à academia do presídio e está submetido a todo tipo de impedimento do preparo da sua defesa do processo de extradição. Ao aparecer em público pela primeira desde que foi preso, em uma audiência para extradição, ficou patente a deterioração do estado dele, evidenciando desorientação e até com dificuldade de dizer o nome e data de nascimento.

Volta a ganhar destaque a denúncia de que a empresa de segurança espanhola contratada para proteger a embaixada do Equador em Londres passou a operar para “o lado escuro” – isto é, a CIA. Inclusive gravando as discussões de Assange com seus advogados, o que por si só já deveria invalidar o pedido de extradição de Washington.

Também está ficando cada vez mais exposto o complô para acusar e difamar Assange, com a promotoria sueca que fora aliciada para a fraude sendo forçada a declarar encerrado o processo por falta de provas – o que acontece pela terceira vez.

A falsa acusação de estupro foi o biombo que possibilitou perseguir o principal publicador das denúncias de crime de guerra dos tempos modernos. Melzer também tem enfatizado como as autoridades de quatro Estados – EUA, Suécia, Grã Bretanha e Austrália – Assange é australiano, concatenaram esforços para perseguir Assange de forma kafkiana.