ONU denuncia condições degradantes de crianças imigrantes nos EUA

Crianças imigrantes separadas dos pais são colocadas em celas que lembram jaulas

Alta Comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, afirmou estar “profundamente alarmada” com o que viu recentemente nas prisões de imigrantes nos Estados Unidos assim que cruzou a fronteira sul do país.

“Estou profundamente comovida por ver meninas e meninos obrigados a dormir no chão em instalações superlotadas, sem acesso à atenção médica nem alimentação adequada e com más condições de saneamento”, declarou a representante da ONU. Em comunicado desde Genebra, Suíça, sede da ONU-DH, Bachelet disse ter presenciado um tratamento tão cruel, desumano e degradante que é proibido pelo direito internacional.

Deter a um menor de idade, mesmo que por um período curto e em boas condições – o que não é o caso – assinalou, pode ter um impacto grave na sua saúde e desenvolvimento, diante do que Bachelet pediu para que se considerasse o dano que vem sendo causado a cada dia que a alarmante situação continue.

Na avaliação da Alta Comissária, é “perturbador” o informe divulgado pelo Departamento de Segurança Nacional dos Estados Unidos sobre as condições encontradas nos centros de detenção de migrantes. “Qualquer privação de liberdade de pessoas migrantes adultas e refugiadas deve ser considerada como medida de último recurso. Se a detenção ocorre, esta deve ser pelo período mais breve possível, cumprindo com as garantias do devido processo e em condições que cumpram plenamente com todos os padrões internacionais de direitos humanos relevantes”, acrescentou.

“Os Estados têm a prerrogativa soberana de decidir sobre as condições de entrada e permanência de estrangeiros. Porém, é claro, as medidas de gestão de fronteiras devem cumprir com as obrigações dos Estados em matéria de direitos humanos e não devem basear-se em políticas restritivas dirigidas unicamente a detectar, deter e deportar imediatamente aos migrantes irregulares”, assinalou a comissária.

Bachelet alertou ainda que a maioria dos que se veem obrigados a migrar embarcam em perigosas viagens com os familiares em busca de proteção e dignidade, fugindo da violência e da fome. “Quando finalmente acreditam que chegaram a um lugar seguro, podem ser separados de seus seres queridos e trancafiados em condições indignas. Isso não deveria ocorrer nunca, em nenhuma parte”, destacou.

A perseguição sofrida por pessoas e organizações solidárias aos imigrantes é uma afronta ao bem comum, acrescentou Bachelet, frisando que muitas vezes este apoio humanitário se traduz simplesmente em dar o que comer ou beber. “A assistência para salvar vidas é um imperativo dos direitos humanos que deve ser respeitado a cada momento, para todas as pessoas necessitadas. É inconcebível que aqueles que buscam dar tal apoio corram o risco de enfrentar processos penais”, concluiu.